Certo que até mesmo a psicóloga já vai tachar a criança de autista ou de Asperger (quando tiver conhecimento para tanto) e encaminhar para tratamento, criando um estigma que só vai piorar a situação.
Porque a criança, por si só, um perfeccionista com uma ansiedade social que não permite falar, vai desde pequeno se auto-rotular de "doente mental", um rótulo que não é fácil em nenhuma idade, mas que é pesado demais para se carregar na segunda infância e/ou na adolescência.
Lendo isso, sou perfeitamente capaz de imaginar a situação e me colocar no lugar dessas crianças. Nunca tive mutismo social, mas era tímida ao extremo.
Conversava bastante com as professoras, mas fui vítima de bullying do primeiro ao último dia dentro da escola, morria de medo e de vergonha de abrir a boca no meio dos meus colegas.
Só respondia às perguntas de classe, relacionadas ao conteúdo, era participativa, mas isso por ter sido sempre a "primeira" da classe, em termos de nota. Lembro que até a psicóloga me chamava pra me dar broncas por meu mau relacionamento, Wally, dizer que, se a classe não gostava de mim, se mexiam comigo, é porque eu era a errada, porque eu tinha de mudar, fazer algo a respeito.
Foi um inferno. Passei recreios sozinha, sentada na escada, porque a sala ficava trancada. Todo mundo olhava pra mim como se eu fosse um verme. Vivia dando explicações (odeio dar explicações) por estar quieta, sozinha no meu canto. Eu dificilmente sorria.
As pessoas me acusavam de coisas que eu não fazia. Riam na minha frente, riam nas minhas costas, falavam que eu tinha cabelo ruim. Todo mundo ficava com algum guri, menos eu. Morria de dores de barriga na escola, de gases.
Queriam cola, e eu não sabia como passar, ficaria vermelha feito um pimentão, se passasse, daí me odiavam ainda mais por isso.
Queriam cola, e eu não sabia como passar, ficaria vermelha feito um pimentão, se passasse, daí me odiavam ainda mais por isso.
Sempre sobrava na educação física, era a última a ser escolhida. Quando finalmente, como "resto" ia para o time, ficava na reserva. Quando tinha de entrar, era todo mundo me pressionando pra não errar o saque, o lance-livre, etcétera. E eu sempre errava. Não sei se de tanto que me pressionavam, e eu ficava nervosa, ou porque eu era ruim mesmo. Fato é que todos passaram a dizer que eu era péssima em Educação Física.
E, se a disciplina tem a função de nos educar para a saúde, o esporte, foi tão ferrenha comigo (até a professora dizia que eu era ruim, descoordenada, péssima), conseguiu: sou sedentária, odeio praticar atividades físicas, não gosto de nada, porque aprendi desde cedo que sou uma bosta em tudo que esteja relacionado a esporte coletivo.
Me fizeram odiar uma atividade que é introduzida no currículo para ensinar saúde, e não para formar atletas (não no primeiro grau, pelo menos).
Acho que a escola precisa repensar o que está fazendo com suas crianças.
O governo é o maior culpado, tapando os olhos para os programas de ensino, para a falta de adequação didática, pedagógica, para a falta de uma conversa franca e aberta com seus professores de educação física, seus psicólogos, seus professores em geral.
Acho que a escola precisa repensar o que está fazendo com suas crianças.
O governo é o maior culpado, tapando os olhos para os programas de ensino, para a falta de adequação didática, pedagógica, para a falta de uma conversa franca e aberta com seus professores de educação física, seus psicólogos, seus professores em geral.
Não adianta nada ficar veiculando propaganda de bullying na rede globo, nem falar em CÉUS, nem em vagas de PROUNI e o diabo a quatro, quando o problema é mais embaixo.
Era isso que eu tinha pra dizer, Wally. Adorei o tema que você abordou aqui. Acho que faz pensar demais, abre um leque para muita discussão, sobre muitas coisas. Um assunto, deveras, vasto.
(por Veronika)
5 comentários:
hehe é bem isso mesmo. Fico aliviada em saber que eu não sou a única a passar por isso. É muito triste.
Veronika, olha o debate que o seu post gerou num grupo no FB:
https://docs.google.com/document/d/1h7-loHMgXKFSk2-EnlNBW_TAp5MaZ5--C8ovhOIfBQM/edit?hl=en_US&pli=1
bjos
Wally, não encontrei o comentário de que vc me falou, mas autorizo que republiquem, okay? Bjs e ótimo domingo! (:
ola, gostaria que vc me escrevesse e me ajudasse a compreender minha filha que tem borderline. essas pessoas com esse problema são capazes de mentir para nos manipular?obrigado. minha filha tem 14 anos e sofre muito, nem posso mais trabalhar para ficar com ela, pois se se sentir sozinha é capaz de se machucar como ja fez algumas vezes, inclusive cortar os pulsos. me ajude.mei emais é gigutzlaf@hotmail.com
Olá,
Imagino que você deve estar sofrendo bastante com a condição de sua filha, né?
Os borderlines sofrem muito, e quem convive com eles sofre demais também.
Você não comentou nada sobre tratamento.
Que tratamento sua filha está fazendo?
É importantíssimo não descuidar, não interromper, não falhar no tratamento.
Sobre a manipulação, vou sugerir que você leia as seguintes postagens:
Manipulação ou Desespero?
http://vidadeumaborderline.blogspot.com/2010/11/borderline-manipulacao-ou-desespero.html
Depoimento - Manipulação
http://vidadeumaborderline.blogspot.com/2010/11/depoimento-borderline-manipulacao.html
Depoimento - Mentindo
http://vidadeumaborderline.blogspot.com/2010/11/depoimento-borderline-mentindo.html
Abraços, e me escreva mais se tiver vontade!
Espero poder ajudar.
P.S. Mandei essa resposta também via email.
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