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07/09/2011

História Borderline - Felipe

Oiii Wally, bem eu sou um border meio complicado. Eu tive uma infância de abandono e maus-tratos. 

Filho de mãe psicopata e sem pai. Sofri muito com a minha mãe e vivia sempre aterrorizado. Até hoje, eu tenho uma relação muito complicada com ela. Não é nada fácil. 

Meu pai, finge que eu não existo. Deve ter vergonha do filho maluco dele. Daí vem o meu distúrbio, viver com uma mãe dessa deixou o meu ego fragilizado, desfragmentado e tornei-me isso: border.

Uma tia minha, me apoiou muito, porque é psicóloga e fui morar com ela. Aí, longe da minha mãe, pude ter um pouco de paz

Começaram as crises, não sabia o que era real ou fantasia. Comecei a beber diariamente vinho. Sou super inteligente e sou funcionário público, tenho uma boa renda. Mas, aplicava em rendimentos arriscados e perdia um dia e ganhava muito dinheiro dias depois. 

Meus relacionamentos? Instáveis, um dia eu amava, para no outro eu romper do nada, sem piedade, as vezes, até com nojo. Enjoado, mesmo (coitadas!!!). Tinha muita raiva, fúria. E nada me preenchia.

Fui diagnosticado bipolar e meu martírio foi piorando, cada psicólogo ruim, mais loucos que eu... Como é difícil conseguir um bom profissional nessa área. Mas uma amiga da minha tia indicava e eles eram picaretas. Sabe achavam que eu era neurótico e que as minhas crises eram surtos psicóticos e me dividiam em várias patologias. 

Medicação? Nada funcionava, engordei, só dormia com os anti-depressivos. Cruel, Wally, cruel. Sofri feito um animal de rua em tempos de enxurrada...com sarna e tudo. 

Minha tia foi um anjo na minha vida. Sempre me amparou, ela é minha verdadeira mãe!

Bom, morei junto com uma mulher que tempos depois, descobri que era psicopata e durante uma crise, ela surtou e tentou me matar a facadas. Fui internado e na Clínica eu encontrei meu atual terapeuta junguiano, que é sensacional. A partir do diagnóstico correto, passei a melhorar.

Emagreci, faço academia. Vendi minha moto e parei de beber há muito tempo, graças a Deus. Mas não cheguei a me tornar alcóolatra. Eu queria preencher meu vazio, correndo feito louco com a moto e buscando mulheres, das quais não lembro nem o rosto...tudo muito triste.

No meu trabalho, o pessoal de lá é bem legal comigo e todos me tratam muito bem (tb lá todo mundo vive a base de tarja preta rsrsrs), a maioria lá é doidão...por isso é até divertido, sabe?

Até o Juiz é bipolar e a diretora é esquizofrênica, por isso, lá eu sou considerado até bem normal, dá para acreditar??? RSRSRS

Aí, bem estou nessa estrada, com muita dificuldade, como enfatizou a Maria Roberta e encontrei vcs duas, que conquistaram o meu coração border de ser.

Hoje, eu luto para ter estabilidade emocional, luto contra o medo de novas crises, de angústias. Mas tenho amigos e sou bem humorado. Sou um border "bacana".
Abraços,

9 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Wally, ver a história da minha vida postada aqui me impressionou muito- epa!- para melhor!!!
Parece que exorcizou um pedaço da minha história, que ficou no passado. Eu sou um homem muito mais maduro e consigo me compadecer com o sofrimento dos outros. Foi anos de terapia para que eu conseguisse aprender "um pouquinho" o que é estar na pele do outro. E esse é um grande desafio para nós, borders.
Claro, que sou um sobrevivente, um verdadeiro "survivor" de um reality show que foi a minha vida. O que é mais legal e tenho muito orgulho de mim é que consegui não perpetuar a violência doméstica que sofri, mas isso graças a minha tia que literalmente me tirou desse ciclo de violência. E não por dó ou pena, mas por amor.
O amor cura e transforma tudo.
Sempre acredito no poder do amor, é o meu norte.
Essa capacidade de amar e ser desprendido, sem o medo da rejeição e do abandono é a minha maior meta de vida. É isso que eu busco: amar o outro de forma inteira, sem medo e instabilidade. Por ora, não estou me relacionando com ninguém, não me sinto preparado para asumir um compromisso sem estabilidade e não quero magoar ninguém como já fiz muito na minha vida.
Aproveito a oportunidade para pedir perdão a todas elas. Perdão por não respeitá-las, perdão por acreditar que estava apaixonado e não estava, perdão porque as usei somente para preencher o vazio e o tédio da minha alma. Perdão, porque muitas vezes eu via a face da minha mãe nos rostos delas e isso me fazia correr e fugir, sem dar a chance de me explicar porque o terror era muito maior que eu.
Ainda, sou Fera, rondando, solitário e confinado no meu castelo, onde tudo ainda se encontra sob encantamento.
Mesmo no personagem da Fera, ainda busco a felicidade.
Muito obrigado Wally pela oportunidade de crescimento interior.
A cada dia te admiro muito mais.
Abraços,
Felipe

Anônimo disse...

Oi Felipe, vc mereceu o post! Sua história é uma lição de vida!
Beijos
maria roberta

Anônimo disse...

Pode parecer absurdo, mas pensei que o percentual de 'borders homens' fosse pequeno, muito pequeno mesmo. Estou boquiaberta. Felipe, parabéns por ter coragem de manifestar seu comportamento com mulheres - às vezes (border ou não, a mulher) mal sabemos que estamos diante de um homem border também, e que ele faz coisas que são típicas da mulher com tal diagnóstico e rótulo. Sua via de humor no texto salva todo o preconceito, inclusive sua brincadeira com os termos "todos faixa preta", "border bacana", "coração border de ser". Parabéns pela coragem e autoconhecimento de si (pela busca, que seja!). Que todos que lidam de alguma forma com isso possam se inspirar na sua humildade para alcançar a melhor qualidade de vida para você e para os que convivem com você, admitir não estar pronto ainda, pedir desculpas, buscar ajuda - mesmo sabendo que as portas se fecham em muitas ocasiões (preconceito e desconhecimento enormes)e contar seu pedacinho de história com humor. Bacana este seu estilo border de escrever com humor. Gostei.

projetoprocesso@hotmail.com

Tatiana

Anônimo disse...

Puxa Tatiana, valeu mesmo!!!
Estou sem palavras...e olha que é difícil, viu? rsrsrs O humor é a minha grande saída, mas sou assim desde pequeno, porque aprendi a rir das piores situações, já que a minha vida sempre foi trágica, porque não torná-la cômica?
E olha, vou te contar um segredinho: tem muito homem border, muito mais do que vc imagina, a diferença é que eles não se expõe e não se tratam. A nossa doença não escolhe sexo. Muitos são diagnosticados como bipolares e depressivos, mas descobrem muitos anos depois que são portadores de TPB.
Obrigado pelas palavras acolhedoras e de incentivo.
E o preconceito deve acabar, em primeiro lugar da nossa parte. Eu logo conto que sou border, de boa, e falo de forma tão simples e explico que estou em tratamento que as pessoas me olham assim: ele é maluquinho, mas é boa gente!!! RSRSRS
Abraços
Felipe

Anônimo disse...

Querida Maria Roberta,
A você, que é uma border especial, só tenho que te agradecer. Também gostaria de conhecer a sua história, quando vc se sentir pronta.
Um beijo,
Felipe

Anônimo disse...

Oi Felipe,
Você tem sido muito fofo comigo, obrigada.
Estou pensando sobre escrever minha historinha. Você foi corajoso de escrever a sua. A minha gira em torno de muita carência e solidão.
beijos
maria roberta

Anônimo disse...

Ah, Maria Roberta, você é uma graça de garota.
Não vai rir, não! Mas você me lembra a Hello Kitty!!! rsrsrs
A minha tia é apaixonada por essa gatinha e está por todos os lados aqui em casa...rsrsrs
Eu acabei me acostumando com ela...( não tinha como!) rsrsrs
Mas você se parece com ela nos aspecto doce, gentil. E a Hello Kitty está sempre fazendo amigos. A minha tia está morrendo de rir..rsrsrs
Aliás, ela também acha você parecida com a Hello Kitty, e olha, para a minha tia isso é um ENORME ELOGIO rsrsrs.
Fico aguardando você se sentir pronta para contar a sua história, pode acreditar em mim: você se sentirá muito mais livre, mais leve.
Todos os borders possuem estigma de solidão, carência, abandono e rejeição. Essa é a nossa marca.
Para saber quem somos, precisamos saber nosso passado, nosso histórico. Não importa, Maria Roberta, o que vivemos no passado. Porque passou. O que importa é o presente. E hoje vc é adorável.
Um beijo
Felipe

Anônimo disse...

Fiquei surpresa e contente com a comparação rsrs gostei sim! Mas confesso que não sei se mereço o elogio pois não sou sempre doce e gentil ... afinal sou border ... e a gente sabe mudar da água pro vinho como ninguém, né? a instabilidade é a coisa mais estável que temos. Lógico que com o tratamento correto tudo fica mais constante ... mas sinceramente, as vezes, tenho medo de mim ... mais no sentido de voltar a ter crises, sabe? mil vezes estar mais estável e as coisas ficarem só na cabeça e não colocar em prática , por ansiedade, impulsividade, angústia, medo, etc ... acho que você me entende.
beijos
maria roberta

Anônimo disse...

descobri há pouco (bem pouco mesmo) que sou border. já fui equivocadamente diagnosticada com transtorno bipolar (fui tratada por profissionais incompetentes, mas agora estou nas maos de bons profissionais). minha historia é triste demais, marcada por abondono e rejeição na infancia. ja tentei suicidio, mas agora decidi tentar construir uma vida digna pra mim. é incrivel como eu consigo enxergar um pouco de mim em cada depoimento desse blog!

Luma

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