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14/09/2011

O Calcanhar de Aquiles do Borderline

(por Maria Roberta)

O humor nos borderlines oscila muito. A instabilidade, a impulsividade, a ansiedade, angústia enfim, emoções no geral são sentidas em lentes de aumento.

A sensação de vazio é algo que também permeia a vida de um indivíduo portador do distúrbio. 
É como se ele não achasse seu lugar no mundo, como se nada fizesse sentido, como se muitas vezes a vida não tivesse cor, fosse cinza, sem motivos ou razões para ser vivida.

Então, ele passa por momentos de uma busca frenética por se encontrar. Seja através de um curso, uma profissão. Seja através de conselhos (que, por vezes, é solicitado de quem esteja próximo) seja através de um amor.

Sim, um amor. O motivo pelo qual a sua vida teria um sentido. Alguém que lhe seria um apoio, uma companhia, que lhe faria especial, que só teria olhos pra ele. E que preencheria a sua existência. E o seu vazio.

Tudo o mais na existência parece ficar pequeno diante de um amor. Esta pessoa que vos escreve crê que tudo realmente fica ínfimo diante da vontade que um border tem em ter um amor. Um amor de verdade, que seja o "cuidador perfeito", que o entenda e que o aceite. Nas suas fragilidades e nas suas fraquezas.

O mundo pára assim que somos vistos por uma possível pessoa que pode ser este amor. Que pode ser o portador de toda a felicidade, as realizações de sonhos e fantasias, de um futuro perfeito, de uma vida cheia de alegrias. De uma existência plena.

O impulso do border faz com que, nesse momento, nada mais exista, a não ser, aquele amor. E pra ele, o border se lança.

Para os que acompanharam a história da cuidadora apaixonada e do Fred, a história perfeita, de devoção e amor perfeitos, ali estava expressa, de maneira real, o que todos sonham para si. Não tenho dúvidas que todos (e muitos assim expressaram em comentários) gostariam de viver algo igual ou, ao menos, parecido.

É o calcanhar de Aquiles do border. Nosso ponto fraco. Abandonamos tudo por uma história de amor.

Precisamos existir aos olhos do outro. Precisamos ser aceitos. Precisamos de apoio. Precisamos ser amados.
Não suportamos não existir. Não suportamos o vazio.

Estar com alguém, de forma amorosa, real (não estou falando de aventuras e casos furtivos mas, sim, de histórias profundas), mostrar-se como se é, por completo e verdadeiramente, traz a tona a alma de cada um.

O border precisa ser visto, precisa ser querido.
Por trás de todo seu medo de ser esquecido, de toda sua natureza de criança assustada, perdida e fragilizada, por trás de seus olhos lacrimejados de sofrimento, existe uma pessoa pronta pra ser tomada nos braços e aceita pelo que ela é.

No entanto, é dentro das histórias de amor que, porventura, pode-se viver as mais complicadas crises.
.
Mergulhados nessas histórias, onde os sentimentos são tão intensos pra quem já não tem um transtorno, imagine para borders que vivem tudo tão intensamente?!
.
Somos atirados de um lado para outro como um barquinho frágil numa tempestade. Se num momento estamos no paraíso, noutro estamos no inferno. Tudo é tremendamente bom e ao mesmo tempo assustadoramente ruim. Devido a instabilidade do TPB nosso humor varia diante das mais diversas situações vividas e nossas emoções nos surpreendem a cada instante.

Sim, é o nosso calcanhar de Aquiles.

Ainda acredito que a possibilidade de tentar lidar com essas situações de maneira mais leve é estar sempre atento a si, através de um tratamento (terapêutico e medicamentoso). 
E atento ao cuidador, que também precisa estar a par do transtorno, das consequencias do mesmo, de como funciona, etc.

Medo? sim, eu sei que dá ... muito.
Temos que aprender a vencê-lo. Devagarinho...

17 comentários:

Anônimo disse...

Muitas vezes encontramos este, mas somos eficientes demais em mantê-los distantes. Creio que fui mais amado do que amei, apenas não fui amado como gostaria de ter sido, e isso foi causa de estresse. Não tenho a ilusão de ser compreendido e amado, só me resta aceitar o que possam me dar, o que nem sempre é o que quero, daí tantos casos fortuitos.

Anônimo disse...

Verdade, precisamos nos sentis "vistos", e contraditoriamente, o que mais nos dá vida, é o aspecto que mais fragiliza, quando quebrado ou destruído, a vida da pessoa que tem o TPB!
Mas, os border também amam...
:O)

Bruno disse...

Wally,

Eu sentia tudo isso num passado recente. Hoje, eu estou fazendo terapia... aprendi a me conhecer e a dominar os meus sentimentos.
Não jogue a sua felicidade na mão de outra pessoa... se faça feliz primeiro e depois compartilhe a sua felicidade com o seu amor.

Hamires C. Ferreira disse...

Confesso que ainda não sei lidar com essas tempestades. Geralmente, elas não me afogam, mas é extremamente difícil respirar. Acho que eu só respiro porque é o único sentido que minha vida tem.

Anônimo disse...

Querida Maria Roberta,
Parabéns pelo seu post!!! Estou muito emocionada com a sua matéria. É exatamente como me sinto em relação ao Fred. E ao ler a sua matéria pude compreender mais o mundo dele. Mas, acredite, quando se há Amor Verdadeiro e sinceridade, podemos amar e ser amados exatamente como somos . E pelo fato do Fred ser border, e tudo ser tão intenso, o meu amor se tornou imenso e me tranquilizei em relação a esse sentimento. Muito esclarecedor e profundo. Amei, de verdade.
Um grande beijo,
Luciana A. ( cuidadora apaixonada)

Anônimo disse...

Maria Roberta,
Parabéns!!!
A sua sensibilidade ao narrar nosso "calcanhar de aquiles" demonstra o quanto somos frágeis, pequeninos, imaturos e na maioria das vezes...infantis!!!!
Considero, muito pertinente, relatar que comigo, o amor sempre foi uma busca frenética pela aceitação do outro e na busca doentia de fazer parte do Todo, uma vez vivia em uma realidade paralela, em meio a crises, sem destino, à deriva.
Mas, a partir da aceitação do diagnóstico e com o uso de medicação. Confesso que está sendo bastante difícil a adaptação a essa dura realidade, com terapia, estou vislumbrando um novo mundo. E confesso, que estou surpreso com a minha melhora. Vivo por um dia, tento controlar as minhas emoções e aminha agressividade.
Ah, já consegui me separar da minha mulher e estou trabalhando a minha culpa nessa triste história....
Abraços,
"Ricardo"

Anônimo disse...

Ah, minha querida Maria Roberta, como vai?
Estou tão feliz com a sua matéria....
Estou voltando, após uma crise...foi muito difícil, minha amiga, mas a vida de border é assim mesmo, né?
Como estou de volta e vivo ( graças a Deus!!!), fico muito grato de poder me deliciar com o nosso calcanhar de aquiles. Concordo com você. O que mais dói na nossa vida é o medo constante, porque estamos sempre na linha de tiro, né?
Puxa, querida Hello Kitty, você está se superando!!!
Você escreveu a sua matéria com a sua alma e me deixou tremendamente emocionado.
Agora, estou meio "sonolento" pela medicação, sabe aquela sensação de não estar plugado? Imagino que vc saiba...todos, nós borders, conhecemos. Mas te vendo através dessa matéria, pude me enxergar, levantar e seguir a vida.
É.... Maria Roberta: vida de border, não é fácil, não!!!
Mas, como estou retornando ao planeta Terra (provavelmente, estava em Marte rsrsrsrs), porque não consigo me lembrar de quase nada... O que sinceramente, acho até bom rrsrsrs
Pude contar com o amor da minha tia. Quero agradecer a ela todo o seu apoio, nesse momento, que foi tão triste.
Mas já estou de volta e meu humor tb.
Um grande beijo, minha Hello Kitty.
A minha tia tb está te parabenizando e te mandando muitos beijos.
seu amigo,
Felipe

Anônimo disse...

Queridos Luciana A. e Ricardo,
Que bom que gostaram do texto!
Tentei expressar o que sinto e, acredito, muitos borders sentem, quando estou perdida numa relação amorosa.
Tudo para os borders está associado ao vazio, ao medo desse vazio, a sensação de não-existência.
O que mais preenchedor que um amor?
Creio que isso deva ser trabalhado muito em terapia para que um amor se torne saudável e parte da vida; não resposta, solução ou saída pra ela.
Eu tenho muito que aprender sobre isso na minha própria vida ...
Beijos
Maria Roberta

Anônimo disse...

oi meu querido Felipe,
imagino que deva ter sido difícil pra você - nossas crises são sempre tão complicadas .......
mas que bom que está de volta!
estava fazendo falta por aqui!!!
eu mesma passei por uma crise faz poucos dias ... ainda estou procurando me livrar totalmente dela ... compartilhei alguns momentos com a wally, que tem sido uma grande amiga ... e quero falar dela um pouquinho aqui.
eu estava com uma rotina de atividades conseguida a muito custo, uma rotina saudável, com atividades físicas e de artes (que gosto muito) e vi tudo isso ameaçado ...
acho muito lindo sua tia estar sempre a teu lado (mande beijos pra ela!!!!)!
o que posso te contar de bom é que hoje, com o diagnóstico correto, minha mãe e irmã estão muito mais atentas a mim, verdadeiramente, com carinho, preocupação, atenção e amor.
isso tem me ajudado a lutar contra vários comportamentos border. tinha a consciência de coisas que fazia mas isso não bastava. hoje estou mais alerta do que é amor de verdade e do que engana, do que faz parecer ser, do que é uma armadilha.
concordo plenamemte com vc querido, não é fácil ser border não ...
que bom que voltou e que está bem agora.
beijos
maria roberta

Anônimo disse...

Muito obrigado por confiar e compartilhar comigo-as nossas já conhecidas crises borderline- Maria Roberta,significa muito para mim.
Sabe, essa crise foi "punk". E eu estava me sentindo tão leve e feliz. Mas de repente, comecei a ficar ansioso, ter medo de dormir sozinho, nada estava me preenchendo, aí veio o tédio e despersonifiquei- sumi- foi tudo tão triste...Antes, eu vivia com muito medo dessas crises e vivia ansioso com medo dela aparecer de repente. Até falei para o meu psicólogo que eu vivo em área de risco de tornado e furacão de intensidade 5. As vezes o céu fica nublado, e vem o granizo e uma tempestade muito forte- eu seguro a onda- e o furacão não chega em mim. Mas dessa vez, foi diferente. Foi um verdadeiro Catrina. Fiquei sem chão, sem casa. Aterrorizante. Mas no fundo do túnel eu enxerguei os braços e as lágrimas da minha tia me chamando: Felipe....Felipe. E eu voltei, amiga.
Fico muito feliz que vc está se dando melhor com a sua mãe e sua irmã. E a nossa luta é assim, mesmo. Com o que é real e o que é a nossa fantasia. Eu tenho as mesmas dificuldades, mesmo no meu trabalho. Imagine, que lá todo mundo é sem noção rsrsrs. Um bando de bipolar, borderline, neurótico, paranóico e esquisofrênico. A noção de realidade, do que é concreto é o nosso norte, senão a gente pira, mesmo, Hello Kitty.
Quanto a prática de atividade física e sua arte, por favor, não desista, NUNCA.
È muito importante para a nossa cura interior e o nosso equilíbrio. Não desista!
Adorei dividir isso com você,
Um super beijo,
seu amigo,
Felipe
Me conte sobre a sua arte

Anônimo disse...

Maria Roberta,
Eu ainda não estou de volta ao planeta Terra, perdoe-me o erro: esquizofrenia é com "z".
Beijos
Felipe

Anônimo disse...

Sabe Felipe, eu entendo isso que você diz da ansiedade chegando ... eu sempre digo pra minha psicóloga que quando estou bem tenho muito medo de uma crise chegar pois parece que elas (as crises) estão sempre nos espreitando ...
e eu entendo como você descreveu ... essa sensação de ouvir alguém te chamar ao fundo ...
na verdade, quando eu estou dentro de fantasias que eu crio, despersonificada, eu sempre ouço vozes distantes, como se estivesse em sonhos ...
como se o real fosse um mundo paralelo, uma dimensão paralela que estivesse acontecendo e da qual eu não faço mais parte ...
é muito estranho ...
sempre tenho uma sensação de estar flutuando, desprendida ...
bem, sobre arte ... acho que sou mais teimosa quanto a isso que qquer outra coisa ... eu tento fazer alguma coisa nesse sentido ... estou estudando desenho e aquarela mas não me considero boa ... nem sou boa mesmo ... fico muito aquém da maioria dos estudantes ... mas estou lá, insistindo em fazer algo ...
quando estou mais confiante em mim eu penso em fazer ilustração pra livros infantis, até penso em trabalhar nisso, embora saiba que tenha ainda muito que trabalhar pra conseguir algo nesse sentido ... mas, como boa border, essas idéias se perdem no caminho e, por vezes, desisto ...
por enquanto, não tenho pensado muito em uma "profissão" pois toda vez que penso em "trabalho" entro em crises graves já que profissão, na minha vida, sempre esteve associada a rigidez da minha família e me trouxe (e ainda traz) vários problemas. no momento atual penso apenas em estudar pra mim, em tentar melhorar por mim, nas técnicas, nos traços e só. até que estou conseguindo curtir ... mas sabe, quando entro nessas crises, mesmo que curtas, vejo tudo isso ameaçado e é triste.
vejo que temos muita luta, poucas alegrias ... as vezes me entristeço demais com essa vida de border ... mas enfim ...
fazer o quê?
ando meio tristonha rsrs
beijos
maria roberta

Anônimo disse...

Querida Maria Roberta,
Eu entendo perfeitamente, também, tudo o que você disse. E é assim, mesmo.
Mas precisamos enfrentar tudo isso,com um pouquinho de dignidade...meu Deus!!! Se você me visse agora, o meu estado...rsrsrs pijama, descabelado....um caos rsrsr.
Mas, para os "normais", muitas coisas difícieis também acontecem e eles sofrem muito, também. Isso é uma coisa que me tranquiliza. Ora, a vida não é só difícil para quem tem TPB. A vida tem suas pecularidades para todos.
Quanto a você trabalhar, acho que seria bacana você pensar em algo que você goste, mais light, sem tanta pressão. Por esse motivo, que resolvi prestar concurso público e ter estabilidade. Do jeito que sou- leia-se: BORDER- seria difícil eu me manter em um emprego regular. Me sentiria inseguro. E olha, emprego público dá o maior estresse, vc nem imagina....Mas, é muito importante vc ter uma ocupação, ter sua independência financeira. E no meu caso, eu quis retribuir aqui em casa e poder dar uma vida tranquila para a minha tia.
Em relação ao sua arte, tenho certeza que vc deve ser ótima, geralmente os artistas são muito exigentes consigo mesmo. Veja como vc está escrevendo de forma genial as suas matérias. E vc não queria, lembra-se?
Trabalhar com crianças, acho que tem tudo a ver com vc. E não foi a toa que a minha tia, que tem muita intuição e até por ser psicóloga, te comparou com a Hello Kitty. Pensa nesse assunto com carinho. Não deixa o nosso distúrbio te limitar. Vc é uma garota sensível e especial. Com certeza deve ter um DNA de artista.
A rigidez da sua família não pode ser um entrave nas suas escolhas. Seja aquilo que vc quer ser, apenas isso. E, Maria Roberta, lute para não ficar deprimida, sabe que as nossas emoções são traiçoeiras, né? Toda a vez que vem um pensamento "maldito" eu penso em coisas sadias, legais. E vc já conhece um pouquinho a história da minha vida. Se fosse outro, já teria se matado.
Faça escolhas que te façam felizes e não se preocupe em satisfazer os outros. Por essa razão que acho que um trabalho te faria bem. Funcionou para mim, pode funcionar para vc, tb.
Vou continuar esperando pelas suas próximas matérias. E a cada vez que a Wally posta uma, vc está cada vez se superando. Parabéns! E essa não é só a minha opinião, veja a dos demais. Vc é realmente muito boa nisso. Quem sabe vc poderia ser uma escritora ou jornalista? Quem sabe uma publicitária?
Ser ilustradora de livros é incrível, tb. Eu curto, acho genial.
Se lança nesse novo desafio, acredite em você. Porque eu acredito e muito. E a Wally também. E ela sabe das coisas.
Um beijo enorme,
estou sempre por aqui.
Seu amigo Felipe

Anônimo disse...

Oi Felipe,
A história do trabalho é um pouco complicada. Já trabalhei por vários anos seguidos, em empresas privada, cerca de 12 anos. Sou graduada, tenho duas pós-graduações ... mas as coisas se complicaram por conta do TPB.
Se quiser, podemos conversar melhor por email:
mariasp27@hotmail.com
Beijo
maria roberta"

Anônimo disse...

tem um comentário mentiroso ali em cima.
borderlines não amam.
praticam uma espécie de rapinagem afetiva, arrancando todo sexo e atenção do burro, ops, do cuidador.

Unknown disse...

Errado Anônimo.
Quem faz isso é o psicopata.
Pra ser psicopata é preciso ser psicótico.
O borderline 'vaga' entre a neurose e a psicose.
Portanto, sinto informar que você está redondamente enganado(a)

Pedro disse...

Pena que não li esse blog antes da minha história de um ano e meio com uma mulher border. Linda, inteligente e completamente apaixonada por mim ... em duas semanas. Mas também ciúmes patológico, mentiras, transferência da responsabilidade de tudo que acontecia. Livaga para minhas amigas e inventava histórias terríveis, fazia vários perfis falsos no meu facebook, no meu msn, e muitas outras histórias. Poderia ter sido a mulher da minha vida. Na real, se eu tivesse lido esse blog antes, talvez....só talvez, a história pudesse ser outra. No final, ficou em depressão grave, apareceu "casada" no facebook em um mes, e me cortou totalmente da vida dela. Talvez tenha sido melhor.

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