Considere um departamento de emergência médica que trata uma criança que esteve em um grave acidente de carro.
Eles tentam salvar a vida da criança, mas ela já estava perto da morte quando os paramédicos a trouxeram.
Obviamente, não há nada que eles poderiam ter feito.
O doutor vai até a sala de espera e diz aos pais da garotinha que sua filha morreu.
O pai não aceita isso bem. “Seu tolo incompetente!” ele grita. “Ela não estava seriamente ferida! Você deveria ser capaz de salva-la. Se o medico de nossa família tivesse tratado dela, ela teria sobrevivido. Eu estou indo denunciá-lo às autoridades!”
Embora ninguém goste de ser ameaçado, a maioria dos médicos percebem que o trauma e o choque da morte da filha pode fazer com que o pai os ataque verbalmente e os culpe.
Eles provavelmente não levarão essas palavras para o lado pessoal porque eles tem consolado milhares de pais afligidos e eles sabem que esse tipo de reação não é incomum.
Nesse exemplo, o incidente que causou a reação do pai é externa, obviamente, e dramática. Uma criança morreu.
Com o borderline, a causa de uma discussão não é necessariamente o evento real, mas a interpretação que o borderline faz de tal evento.
Como você provavelmente sabe, você e a pessoa com TPB podem chegar a conclusões bem diferentes sobre o que foi dito e feito.
Seguem-se apenas dois exemplos:
Robert (não-border) diz: Eu terei que trabalhar até tarde.
Kathryn (border) escuta: Eu não quero sair com você esta noite porque eu não te amo mais. Eu não quero te ver nunca mais.
Kathryn diz (em fúria ou com um tom de voz choroso): Como você pôde! Você nunca me amou! Eu te odeio!
Tom diz: Eu estou tão orgulhoso de minha filha! Ontem ela participou de uma corrida no campo e ganhou o jogo.
Vamos ao cinema esta noite para comemorar.
Roxann escuta: Eu amo minha filha mais do que você. Ela é talentosa e você não é. A partir de agora, eu vou dar todo meu amor e atenção a ela e ignorar você.
Roxann pensa: Ele percebeu que eu sou imperfeita e defeituosa. Então agora ele vai me deixar. Mas não, eu não sou imperfeita e defeituosa. Não há nada de errado comigo. Então ele é o único defeituoso.
Roxann diz: Não, eu não quero ir ao cinema! Porque você não pergunta o que eu quero fazer? Você nunca pensa em mim. Você é tão incrivelmente egoísta e controlador!
Nós não sabemos porque Roxann e Kathryn interpretaram os comentários deles desse jeito. Talvez, elas estivessem com medo de serem abandonadas.
3 comentários:
È a capacidade do border de distorcer tudo que ouve... isso tem me atrapalhado e muito!
Uau. O engraçado é que nós, Borders, mesmo sabendo que esta nossa interpretação pode não ser a correta (pode, porque nunca sabemos), não conseguimos distinguir isto na hora em que acontece - só depois, com o desenrolar da situação, e isto se tratando de um Border que já teve certos progressos no tratamento.
Lembro-me bem de como tudo soava hostil, no início. Era um verdadeiro inferno.
Hoje, observo por vezes o comportamento de uma outra pessoa da minha família e me pergunto se esta não seria também Border, ou algo parecido. Queria que alguém me escutasse e tentassem conversar com esta pessoa, afinal todos concordam que ela tem sérios problemas psicológicos. Eu, tão veterana, que li tanto, conversei tanto, convivi tanto com o sofrimento Border não consigo chegar a esta pessoa. Isto me entristece.
Bom, foi só um desabafo.
Abraços!
Josi, também me atrapalhou muito!!
Mas como a Hami comentou, apesar de não conseguir distinguir isto exatamente na hora em que acontece, logo depois consigo ter a consciência que minha interpretação está sendo exagerada e absurda...
Continuar incomodando mas já é um avanço.
Hami, por que você não escreve pra essa pessoa?
Escrever é mais fácil que falar...
bjos meninas!
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