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23/01/2011

Depoimento Borderline - Círculo Vicioso

Eu sempre tinha esse desejo insaciável por algo que não conseguia definir, exceto chamar isso de abismo incompreensível de necessidade.

Algo que me tornava diferente e envergonhada. Algo que me fazia ter medo de me aproximar de qualquer um por receio de que descobrissem que eu era podre e transtornada. 

Então eu diversifiquei. Eu tinha uma porção de amigos e não me aproximava de nenhum deles. Se eu baixasse minha guarda e um amigo descobrisse o quão estranha eu era e recuasse – bem, eu tinha outros cinqüenta e nove. 

Mas agora um relacionamento romântico estava retrocedendo. E com isso, estreitando. 

As apostas eram altas, com uma pessoa significando tanto. 
E a necessidade de intimidade jorrava de mim como a água de uma barragem quebradiça.
Eu me agarrei a tudo o que tinha para não deixar romper totalmente.

Ah, mas agora é diferente – o rapaz precisa de mim, também.

Então talvez seja seguro aqui. 
Então eu arremessei uma grande pedra na barragem que segurava as águas tempestuosas. 

E isso me varreu nas suas correntezas, me arremessou em todas as direções, pulando como um pinball. Girando. 

Não posso controlar isso – é como começar uma vida em si mesmo.

Fique comigo, por favor. Todo dia e toda noite. Olhe para mim, me escute. Eu estou aqui. Pode me ver? Estou aqui! Estou aqui! Estou aqui... Oh, isso é incrível! Finalmente, finalmente, a única pessoa que tem tudo o que eu preciso! Que alívio! Ei... espere um minuto! Ele está resistindo a isso – diz que quer assistir TV em paz, diz que tem uma outra coisa pra fazer. 

Mas o que é que eu faço agora? Preciso interromper! Ooohhh, estou frustrada... que droga! Eu odeio esse cara! Eu deixei baixar minha guarda – será que ele não sabe o quão difícil foi para mim fazer isso? Como ele ousa preferir assistir TV do que conversar comigo? Como ele ousa preferir sair com seus amigos do que ficar aqui mesmo, agora mesmo? Como ele ousa descobrir que tipo de pessoa completamente transtornada eu sou? 

Estou furiosa
E estou constrangida como o inferno. Eu vou pega-lo com as calças arriadas – ele verá o abismo incompreensível de necessidade. 
Ele me fez de tola! Eu vou atacar. Deixe estar! 
Deixe a sacudida mostrar com quem ele está brincando. 

Ei, adivinhe camarada – eu não me importo com você. Não, eu não dou a mínima para você! Veja, estou calma. Eu sou uma criança brigona. Eu não preciso de uma droga de pessoa e eu certamente não preciso de você! Eu brigo, eu choro até desmaiar de esgotamento. E em seguida eu acordo e vejo como eu o machuquei. E eu me desprezo mais do que eu possa imaginar. 

Estou assustada até a morte. Porque ele está indo caminhar, eu só sei que ele está indo caminhar. Estou tão vulnerável. Eu não sou brigona. Por favor não me deixe – sinceramente, eu não sou a criança brigona. Eu preciso de você.

Como posso mostrar a você? Eu choro, eu imploro, eu digo para ele que homem incrível ele é, quão paciente ele é. Eu sei que você me odeia! Você deveria me odiar! Eu sou melhor morta. Você ficará melhor sem mim! Não, eu quero dizer – eu queria que eu estivesse morta... ele está afrouxando um pouco. 

Deixe-me cozinhar pra você uma refeição deliciosa, ser sua agradável concumbina – deixe-me te mostrar o melhor lado da minha paixão. Caramba! Ele voltou. Ele continua aqui. Obrigada Deus por eu não destruir tudo permanentemente. Eu me sinto tão bem com ele. Ele se importa. Eu preciso dele. 

Quando eu percebo que causei um estrago irreparável – quando o círculo começa a se repetir por si mesmo então eu me convenço que destruí tudo irreparavelmente – quer ele tenha ou não chegado a essa conclusão – eu corto o cordão e
encontro outra pessoa. 

E vou por toda coisa maldita de novo...

(fonte: trecho extraído do livro Stop Walking on Eggshells)

7 comentários:

Carla Dias disse...

Excelente texto !
É mesmo assim que se passa cá em casa.
Só que aqui não há companheiro, namorado ou amigo. É com as únicas pessoas com quem convive, ou seja, a mãe e o pai.

Anônimo disse...

essa é minha vida....

Anônimo disse...

Olá, eu já passei muito por isso.
Hoje, que tenho mais clareza do ciclo, fica mais fácil identificar o que acontece ... mas ainda não é fácil controlar - pela intensidade das emoções.
Já vi casos em que o ódio vem como descrito no texto mas vem também quando a pessoa não retorna - após ter ido e ter tentado trazê-la de volta. Ou seja, o ódio permanece e, por vezes, de maneira bem forte.
Muitas vezes, fico me perguntando qual a razão desse ódio pois atacar a pessoa não vai mesmo fazer com que ela volte mas, sim, vai afastá-la mais ainda.
Acredito que esse ataque (por ela não ter voltado) seja uma forma de fazer a pessoa enxergar o border. Como um grito de desespero. Mesmo que o outro o odeie de volta (pelas agressões ouvidas) é melhor ter a raiva, o ódio, do que não ser mais visto.
É um turbilhão de sentimentos e emoções pois um border carinhoso e atencioso pode ser agressivo e cruel na mesma proporção ao se sentir abandonado e rejeitado. E esse "jogo" torna-se doloroso pra ambas as partes. Pois, na maioria das vezes, o outro não vai aguentar. E o border acaba sem o outro da maneira mais sofrida ...
As vezes penso que somos algozes de nós mesmos. É muito cruel o q fazemos com nós mesmos. O tempo todo tentando provar que não vale a pena estarmos vivos. Mas estamos vivos. E cabe a nós brigarmos por viver. Temos o mesmo direito a isso que qualquer um. Por que nos machucamos tanto? Acho que não sabemos nos defender do mundo e somos machucados. Então revidamos justamente por não sabermos nos defender, de maneira saudável. Mas revidando de uma maneira "aprendida", agressiva, acabamos reforçando a idéia de que somos "problemáticos". E nos sentimos mais e mais "a parte". Cabe a nós buscarmos ajuda profissional e aprendermos a viver da melhor maneira possível. Encontrar formar de nos defendermos do mundo. Formar de viver melhor. Fácil? Não é. Tenho tanta dificuldade como qquer um. E, acreditem, elas são ENORMES. Mas é nossa vida. E vale como a de qquer pessoa.
Acho que podemos tentar pensar positivo (fazer um esforço pra isso, um diazinho de cada vez). De novo, fácil? Não é. Mas o que mais resta?
Beijos
Maria

Anônimo disse...

nossa que forte,estou aos prantos!

viver essa história não é fácil!

bjs Suzana

Unknown disse...

Não é mesmo Suzana.
Depois de cada crise temos que juntar os cacos e prosseguir...
Não é fácil nem para o border nem para o cuidador.

bjos

Anônimo disse...

Perfeito texto, as vezes parece uma narrativa de nossa vida em determinado momento. Ae me pergunto, será que um border line seria feliz se estivesse junto com outro border? Já que o nível de intensidade são elevados ao extremo..

Anônimo disse...

já escrevi um comentário nesse texto e toda vez que o releio me enxergo nele claramente como se eu mesma o tivesse escrito.
anônimo, eu acredito que dois borders teriam a mesma dificuldade que um border e um não-border, ou seja, creio que o transtorno traz dificuldades para o relacionamento mas como abordado aqui no blog da wally em determinados tópicos, creio que com acompanhamento, tratamento, disponibilidade das partes envolvidas é possível ter resultados positivos.
não é fácil mas creio que é possível.
eu, pessoalmente, ainda não pude experimentar isso.
beijos
maria roberta

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