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11/10/2011

Metades

por Eduardo Baszczyn

Porque, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. O quanto uso das partes que brigam dentro de mim. Há muito, eu me confundo.

Porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. Olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. Segurando forte. Espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso.

Metade prefere brincar na beira da praia. No raso. Enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. Sobre o possível afogamento.

Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim.
Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo.

Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade.

Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro.
Metade berra. Outra sussurra.

Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado.

Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade.
Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha.
Metade auto-suficiente.

Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco.
Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria.

Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis.

Metades que me fazem sofrer nessa luta diária.
No não deixar que uma mate a outra.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal esse texto. Me vi muito nele.
rs

-Tay

Guita disse...

Sou eu!!! Essas duas metades ora separadas por um abismo, ora unidas em uma linha tênue quase única, sou eu que mantenho essa luta diária para buscar o equilibrio entre uma metade e outra e ninguém, ninguém compreende o quanto isso é dificil pra mim. Ninguém se importa, ou entende ou se quer tenta entender como dói aaqui esse vazio, oco, sombrio que se forma aqui dentro de mim, eu queria que tudo isso acabasse, eu queria que eu me acabasse e todo esse tormento fosse comigo.

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