por Deise Vasconcelos,
Milena Tarcila e Renata Itaparica
Em Psicanálise, o TOC (Neurose Obsessiva Compulsiva) descrita por Freud desde o inicio de seu estudo contribui enormemente para a construção da teoria psicanalítica.
Estudando o funcionamento dos sintomas obsessivos, ele concluiu sobre os aspectos fundamentais do funcionamento do aparelho psíquico. Na introdução do “Homem dos Ratos”, Freud (1909) diz que a neurose obsessivo-compulsiva não é algo em si fácil de entender – é muito menos fácil do que um caso de histeria. “A linguagem de uma neurose obsessiva, ou seja, os meios pelos quais ela expressa seus pensamentos secretos, presume-se ser apenas um dialeto da linguagem da histeria" (Freud, 1909, pág. 143).
Na neurose obsessiva é encontrada pela primeira vez nos sintomas bifásicos, nos quais uma ação é cancelada por uma segunda, do modo que é como se nenhuma ação tivesse ocorrido, ao passo que na realidade, ambas ocorreram. (Freud, 1925, pág. 120)
O sintoma dessa neurose é ao mesmo tempo aquilo que oculta e que revela o insuportável para o ego consciente, sendo aquele que no curso da análise revelará o caminho da fixação pela linha regressiva do tempo que se pode promover pela livre associação e pela neurose de transferência.
Os atos compulsivos mais comuns podem ser reduzidos a cinco categorias primárias: rituais envolvendo a verificação; rituais envolvendo a limpeza; pensamentos obsessivos sem compulsões; lentidão obsessiva e rituais mistos.
Em O Homem dos Ratos, Freud (1909) pela primeira vez reconhece o conflito entre amor e ódio como uma possível base para a neurose. Charchamorich e Fetter (2005) apontam este estabelecimento do conceito de ambivalência psíquica por Freud como um grande passo no sentido de reconhecer o conflito interno, em sua origem e não apenas em seu desenvolvimento. Zimermam (1999) aponta como principais fatores etiológicos a existência de:
- Pais obsessivos que impuseram um superego por demais rígido e punitivo;
- Uma exagerada carga de agressão que o ego não conseguia processar, e, igualmente, uma falha da capacidade do ego na função de síntese e discriminação das permanentes contradições que atormentam o obsessivo;
- Do ponto de vista estrutural, há um constante conflito inter-sistêmico (o ego está submetido ao superego cruel e pressionado pelas demandas do id); e há ainda um conflito intra-sistêmico (dentro do próprio id, as pulsões de vida e de morte podem estar em um forte conflito; ou nas representações do ego, o gênero masculino e o feminino não se entendem entre si).
- O entendimento da importância da defecação para a criança, com as respectivas fixações anais que se organizam em torno das fantasias que cercam o ato de defecar.
Freud (1909) diz que as idéias obsessivas têm a aparência de não possuírem nem motivo nem significação. O primeiro problema é saber como lhe dá um sentido e um status na vida mental do paciente, de modo a torná-las compreensíveis, e mesmo, óbvias.
A solução se dá ao se levar as idéias obsessivas a uma relação temporal com as experiências do paciente, quer dizer, ao se indagar quando foi que uma idéia obsessiva particular fez sua primeira aparição e em que circunstancias externas ela está apta para voltar a ocorrer; uma vez descobertas as interconexões entre uma idéia obsessiva e as experiências do paciente não haverá de se ter acesso a “algo mais” na estrutura patológica – “seu significado, o mecanismo de sua origem e sua derivação das forças motivadoras preponderantes da mente do paciente.” (Freud, 1909, pág. 168)
O neurótico normalmente tem consciência dos seus atos e pensamentos, por isso uma dolorosa dissociação se estabelece no ego, e a pessoa afetada fica atormentada pelas repetições ideativas, podemos definir as obsessões ideativas, como intensificações de pensamento ego-distônicos, recursivos e intrusivos, que leva o paciente a ser pensado pelos seus muitos pensamentos, gerando uma ansiedade atormentadora, numa tentativa de aliviar a ansiedade causada por essas obsessões, o neurótico recorre a ações ritualizadas, que são as chamadas compulsões.
Essas compulsões dizem a respeito a uma peculiaridade de determinados sintomas obsessivos: trata-se de pensamentos ou atos que o sujeito realiza ainda que lhe pareçam um corpo estranho, pensamentos ou atos movidos por uma força irresistível contra a qual o sujeito gostaria de lutar. A compulsão, nesse caso, resulta de um conflito psíquico e de uma luta subjetiva entre duas injunções opostas, estando o sujeito impossibilitado de escolher qualquer uma delas.
Encurralado nessa hesitação exasperante, a resposta do sujeito é o ato compulsivo — Freud o considera uma compensação da dúvida — que se produz como uma espécie de "vazamento": a imagem aqui seria a do suco de uma fruta que, de tão espremido, acabaria escoando pelos cortes feitos na casca (HANNS, 1996).
De acordo com Freud (1909) a real significação atos obsessivo-compulsivos reside no fato de serem representantes de um conflito entre dois impulsos opostos de força aproximadamente igual. Especificando melhor os sintomas da Neurose Obsessiva , encontramos:
- Essas pessoas são vítimas de suas compulsões;
- Uma outra peculiaridade marcante é a busca pela perfeição, tanto intrapsiquicamente como extrapsiquicamente. Sua exigência maior é encontrar aquilo que é perfeito, mesmo que racionalmente admita que tal exigência é absurda e frustrante.
- O desequilíbrio gera uma acentuada ambivalência relacional, são capazes de ruminar interminavelmente uma pequena atitude, desgastando e fadigando, qualquer pessoa de seu convívio;
- Por causa do conflito interno, tudo que fazem requer muito esforço, podem criar uma tempestade num copo d’água na realização de qualquer atividade corriqueira,por mais simples que esta nos pareça;
- Os pensamentos intrusivos se avolumam de tal forma na mente neurotizada, que é muito comum ficarem presos por uma cadeia interminável de pensamentos, que por vezes paralisam totalmente ações práticas, fazendo com que a dúvida seja a regra geral do comportamento compulsivo obsessivo. São fracos em tomar decisões, não sabendo como agir frente a escolhas banais do cotidiano.
Para a Psicanálise, a neurose obsessiva compulsiva tem como origem um conflito psíquico infantil e uma fixação da libido no estágio anal de maturação, tal neurose manifesta-se através de ritos, podendo ser de tipo religioso, sintomas obsedantes e uma ruminação mental permanente, que dá origem a intermináveis dúvidas e escrúpulos que acabam por inibir o pensamento e a ação.
Freud (1913) dizia que os pontos de fixação eram decisivos para a escolha da neurose e que obsessivo regride ao nível anal-sádico da libido, o que, diz ele anos depois, será ‘’decisivo a tudo que se segue’’ (Freud, 1926, p. 136).
REFERÊNCIAS
JOVIANE MOURA , Transtorno Obsessivo Compulsivo: Uma visão Psicanalítica, encontrado em :
MARCOS OLIVEIRA, Neurose Obsessiva Compulsiva, encontrado em:
JÔ GONDAR, Sobre as Compulsões e o dispositivo Psicanalítico. Ágora (Rio J.) vol.4 no.2 Rio de Janeiro July/Dec. 2001
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