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31/07/2012

Borderline - O Narciso Polissintomático

Kernberg e col. (Apud. Dal’Pizol, et. al., 2003) descrevem o funcionamento psicodinâmico borderline a partir de três critérios: difusão de identidade; nível de operações defensivas e capacidade de teste de realidade.

A difusão de identidade caracteriza-se como falta de integração do conceito de self e de outros significativos. 

Ela mostra-se na experiência subjetiva do paciente como sensação de vazio crônico, contradição nas percepções sobre si e em atitudes contraditórias.

Os mecanismos de defesa do ego mais utilizados são as defesas primitivas, centradas no mecanismo de clivagem

Para proteger o ego do conflito, recorrem à idealização primitiva, identificação projetiva, denegação, controle onipotente e desvalorização.

Os portadores TP Borderline mantêm a capacidade de teste de realidade, mas possuem alterações na sua relação com a realidade: a realidade é adequadamente avaliada, mas o comportamento é inapropriado e incoerente com a avaliação da realidade.

Segundo Bergeret (2006) os estados-limítrofes se acham circunscritos economicamente como organizações autônomas e distintas, ao mesmo tempo das neuroses e das psicoses. 

O autor lembra que Freud ao introduzir o conceito de narcisismo, destacado o papel do Ideal do Ego, feito a descrição da escolha anaclítica de objeto e a descoberta do papel desempenhado pelas frustrações afetivas da criança, reconhece a existência de um tipo libidinal “narcisista” sem um Superego completamente constituído, onde o essencial do conflito pós-edipiano não se situa em uma oposição entre o ego e o superego, uma fragmentação do ego se apresenta como intermediária, justamente entre a fragmentação psicótica e o conflito neurótico. 

Em seus últimos trabalhos Freud descreve os mecanismos da clivagem e da recusa e faz alusão a um tipo “narcisista” de personalidade.

Nos arranjos-limítrofes o ego em formação consegue ultrapassar o momento em que as frustrações da primeira idade teriam podido operar fixações pré-psicóticas tenazes e desagradáveis, não regredindo a essas fixações

Entretanto no momento em que se dava a evolução edipiana normal esses sujeitos sofreram um trauma psíquico importante. É um trauma afetivo que corresponde a uma “comoção pulsional”, ocorrida em um momento em que o ego ainda está não-organizado e demasiado imaturo no plano do equipamento, da adaptação e das defesas. 

O Ego imaturo busca então, integrar essa experiência (o trauma psíquico) as outras experiências do momento e interpreta essa percepção como uma frustração e uma ameaça à sua integridade narcísica

Bergeret (2006) localiza o estado-limítrofe como uma doença do narcisismo. O ego não consegue aceder a uma relação de objeto genital, no nível dos conflitos entre Id e Superego. 

A relação de objeto fica centrada em uma dependência anaclítica do outro. E o limítrofe fica se defendendo contra o perigo imediato da depressão, sofre de uma angústia de perda de objeto e de depressão e centra seus investimentos na relação de dependência em relação ao outro

A relação de objeto é uma relação a dois, onde trata-se de ser amado pelo outro, o forte, o grande, estando ao mesmo tempo separado dele como objeto distinto, mas ao mesmo tempo “apoiando-se contra ele” (anaclitismo).

Zimerman (2004) nomeia-os como portadores de uma “neurose polissintomática”, onde esses pacientes recobrem suas intensas angústias depressivas e paranóides com uma fachada de sintomas ou de traços caracteriológicos, de fobias diversas, manifestações obsessivo-compulsivas, histéricas, narcisistas, somatizadoras, perversas, etc. todas podendo ser concomitantes ou alternantes. Em casos avançados podem aparecer manifestações pré-psicóticas.

Zimerman (2004) destaca que no borderline a presença de sintomas de estranheza (em relação ao meio ambiente exterior) e de despersonalização (estranheza em relação a si próprio) estão intimamente ligados ao fato de que essas pessoas apresentam um transtorno do sentimento de identidade, o qual consiste no fato de que não existe uma integração dos diferentes aspectos de sua personalidade, e essa “não integração” resulta numa dificuldade que esse tipo de paciente tem de transmitir uma imagem integrada, coerente e consistente de si próprio. 

Zimerman destaca que esse tipo de estado mental decorre do fato de o borderline fazer uso excessivo da defesa da clivagem (dissociação) dos diferentes aspectos de seu psiquismo, que permanecem contraditórios ou em oposição entre si, de modo que ele se organiza como uma pessoa ambígua, instável e compartimentada. Tendem a sentir uma ansiedade difusa e uma sensação de vazio.

Segundo Pizol, Lima et. al. (2003) as características estruturais secundárias desta organização de personalidade como manifestações de fraqueza egóica, patologias do superego e relações objetais cronicamente caóticas seriam consequências diretas da difusão de identidade e do predomínio de operações defensivas imaturas.

Como deve ser o tratamento psicoterápico

As dificuldades enfrentadas pelo paciente borderline são muito amplas, são pessoas severamente disfuncionais; podem psicotizar numa situação de estresse; e no processo terapêutico podem regredir facilmente em resposta à sua falta de estrutura ou interromper as psicoterapias tempestuosa e impulsivamente. É preciso lidar ainda com as ameaças constantes e o risco suicida e possíveis necessidades de internação.

O borderline não é capaz de suportar grande quantidade de ansiedade. Segundo Vieira Junior (1998) a psicoterapia deve privilegiar uma abordagem mais relacional do que transferencial, mais ativa e expressiva do que passiva e expectante, mais suportiva que geradora de ansiedade.

Romaro (2002) destaca que um dos problemas no manejo terapêutico é a intensa agressão que se expressa na relação transferencial e que exige que o terapeuta possa conter, tolerar e compreender essas reações, sem agir de forma retaliatória e sem sentir sua identidade ameaçada. O impasse é transformar o comportamento destrutivo em uma específica constelação transferencial.

Na abordagem terapêutica é importante o estabelecimento de parâmetros e limites claros que norteiem o tratamento, maior atividade verbal do que geralmente se aplicaria no tratamento de outros pacientes, maior tolerância a comportamentos hostis, desestímulo a atuações e privilégio do aqui e agora em detrimento de análises de reminiscências (Vieira Junior, 1998).

O estabelecimento da aliança terapêutica é algo particularmente difícil, devido à alta probabilidade de ocorrência de acting-out, com manifestações transferenciais e contratransferenciais intensas exigindo que o terapeuta seja ativo, flexível e continente.

As terapias devem auxiliar o sujeito a encontrar formas mais adaptativa para enfrentamento de suas dificuldades e conflitos, ajudar a controlar o acting e os sintomas que causam sofrimentos e conflitos. 

É preciso considerar a heterogeneidade dos sintomas e as comorbidades

O borderline não é uma categoria homogênea, engloba sinais e sintomas diversos, além de diferentes níveis de adaptação e regressão.





29/07/2012

A Contenção da Autenticidade

Hoje eu aprendi uma grande lição.

Uma lição que eu já estava cansada de aprender na teoria, mas que quando se aprende na prática é totalmente diferente.

“Nós só damos valor (de verdade) quando perdemos”

E porque eu não enxerguei o verdadeiro valor, eu esqueci de praticar a contenção.
Autenticidade demais faz mal. Envenena.
E vicia. 
Uma vez que se começa a praticar a autenticidade, é difícil parar.
Não se pode ser autêntico o tempo todo.
Aquele que não reserva um pouquinho de si para si acaba se perdendo de si mesmo.

Autenticidade demais cansa.
Autenticidade demais causa desconforto.

Autenticidade demais assusta.
Mostrar o seu canto mais obscuro da alma e convidar o outro a entrar nem sempre é uma boa alternativa.

A autenticidade só me deu prejuízo.
.
E por isso...
...hoje volto a tirar minhas máscaras da gaveta.
E coloco um ponto final na autenticidade.
Ou pelo menos... um ponto e vírgula.
Wally

28/07/2012

Qual é o Sentido da Vida?

(...)Por que alguém surfa a onda em uma prancha?
Qual o propósito prático para isso?
Bem, nós fazemos isso porque tentamos alisar o oceano? 
Ou porque tentamos ensinar os peixes a nadar por cima da água?(...)

25/07/2012

"A Vingança Nunca é Plena..."

texto de Arnaldo Agria Huss

Apesar de quase não assistir televisão, sei que a atual novela das nove está dando ênfase a algo extremamente mórbido, que vem a ser a vingança.

Não é a primeira vez que a vingança é pano de fundo para uma obra de ficção. Até o compositor Lupiscínio Rodrigues rendeu-se ao tema, e um de seus maiores sucessos foi inspirado em uma decepção amorosa. 

O nome da decepção era Mercedes, que pensou em traí-lo com um empregado de Lupiscínio, mas o rapaz, com medo, entregou ao compositor o bilhete de Mercedes. Após o rompimento, ele compôs o grande clássico da MPB, ao qual deu o nome de “Vingança”. 

Um trecho diz assim: “Mas, enquanto houver força em meu peito, eu não quero mais nada, só vingança, vingança, vingança, aos santos clamar, ela há de rolar como as pedras, que rolam na estrada, sem ter nunca um cantinho de seu, pra poder descansar”.

O professor de Filosofia da Universidade Católica de Santos, Fábio Maimone, destaca que “no âmbito individual, a vingança é caracterizada como revanchismo, como a Lei de Tailão, conhecida como olho por olho, dente por dente”

Já no aspecto coletivo, é vista como uma lei natural. “O Estado tem o papel de vingar o indivíduo com a Justiça. Também há o Estado Divino, ou seja, a Justiça de Deus”.

Até que ponto o desejo por vingança é normal? A psicóloga Mirnamar Pagliuso explica que o anseio por vingança é inerente: “Faz parte da natureza humana. Quando somos lesados, nos sentimos destruídos. Por isso, temos o instinto de querer destruir quem nos prejudicou. O limiar entre o plausível e o anormal é a forma como a pessoa expressa este desejo de reparação

Ela destaca que o sentimento de vingança não é fruto exclusivo de traições ou decepções amorosas ou ainda, desafetos familiares. Assédio moral no trabalho ou o tal bullying são outros exemplos.

“Quando as pessoas arquitetam planos de vingança, com certos requintes de crueldade (física ou moral) já se caracterizam quadros de transtorno de personalidade”, assinala o psiquiatra Miguel Ximenes de Rezende, que acrescenta: “O que caracteriza um quadro de transtorno de personalidade é justamente a pessoa alimentar esse sentimento e planejar friamente como vai colocá-lo em prática”.

Existem 12 tipos de transtornos de personalidade, e o que mais se associa à vingança é a paranoia. “A falta de remorso e a frieza com que uma pessoa executa o seu plano de vingança são sinais de transtorno de personalidade paranoica”, explica o médico. “A obsessão por vingança figura em outros tipos de desvios de conduta, entre eles o transtorno antissocial da personalidade, atribuído aos sociopatas”, completa.

O tratamento é realizado à base de medicação associada à psicoterapia, dependendo do grau de intensidade do problema. “Procuramos amenizar a forma de como a pessoa vai manifestar o seu desejo por vingança, por meio da estabilização da ansiedade e do humor. Já a terapia visa o seu amadurecimento”, explica o psiquiatra.

O médico e a psicóloga concordam que os sinais que diferem um sentimento de vingança natural de uma obsessão por reparação, são latentes. Apenas desejar ou revidar uma ofensa é uma defesa natural do ser humano. Mas se este anseio ou prática for recorrente, é indicado buscar ajuda de um profissional especializado”, finaliza Mirnamar.

01/07/2012

Não é Estranho?


Não é estranho como nós 
nos escondemos atrás de nossos medos?
Não é estranho como 
muitas vezes nós mudamos de ideia?
Não é confortável nos acomodarmos
 e nunca tomarmos uma posição?
Não é confortável nos 
misturarmos com a multidão?

Se você sabe que está dentro de você
Por que não acreditar 
no que você pode fazer?
Você sabia que pode mudar 
a maneira como as coisas são?
Se você consegue enxergar
Você consegue ser

Não é engraçado como a gente 
sempre brinca de fingir?
Não é engraçado como tentamos 
enganar o mundo?
Não é típico querermos 
culpar alguém?
Não é típico querermos 
dar uma desculpa esfarrapada?

Se você sabe que 
está dentro de você
Por que não acreditar 
no que você pode fazer?
Você sabia que pode mudar 
a maneira como as coisas são?
Se você consegue enxergar
Você consegue ser

Quebrar o silêncio 
poderia mudar a maneira como pensamos?
Mudar a forma como pensamos, 
não é esta a ligação?

(tradução de Isn't it de Nianell)

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