Tom Edgington tem poucas lembranças felizes de sua infância em Muswell Hill, um subúrbio ao norte de Londres.
Seu pai, Harry, um homem sério e de poucas palavras, era um correspondente do jornal inglês Daily Mail, e trabalhava muito dentro de casa. Sua mãe, Marion, ao contrário do marido, era uma mulher bastante comunicativa e uma personalidade bastante popular no bairro.
Além de Tom, o casal tinha mais duas filhas, Nicola, a mais velha, e Sara, a caçula. A família inglesa poderia ser apenas mais uma família normal mundo afora não fosse um seríssimo problema que girava em torno da irmã mais velha de Tom, a ruivinha Nicola.
Seu pai, Harry, um homem sério e de poucas palavras, era um correspondente do jornal inglês Daily Mail, e trabalhava muito dentro de casa. Sua mãe, Marion, ao contrário do marido, era uma mulher bastante comunicativa e uma personalidade bastante popular no bairro.
Além de Tom, o casal tinha mais duas filhas, Nicola, a mais velha, e Sara, a caçula. A família inglesa poderia ser apenas mais uma família normal mundo afora não fosse um seríssimo problema que girava em torno da irmã mais velha de Tom, a ruivinha Nicola.
Tom diz sobre sua irmã:
“Nicola
parecia gostar de criar conflitos, colocando as pessoas umas contra as
outras. Eu pensava que era normal, não tinha como eu saber que não.
Crescemos como forasteiros no bairro, Nicola sempre tinha problemas na
escola e os pais de colegas proibiam seus filhos de brincarem com ela
por acharem que ela era uma má influência.”
Voltando
ao passado, uma lembrança se destaca na mente de Tom. Ele tem quatro
anos e está arranhado, sangrando, caído sobre uma roseira no jardim. Seu
pai corre para ajudá-lo, ao lado, sua irmãzinha Nicola assiste à cena
sem expressar nenhuma emoção. Foi ela quem o empurrou contra os
espinhos. Repreendida pelo pai, ela apenas diz:
“Está feito!”
Ela chamava o irmão mais novo apenas de “coisa”,
e essa não fora a primeira vez que ela tentara se livrar dele. Quanto
Tom tinha dois anos, Nicola empurrou o seu carrinho de bebê pela
escadaria de uma igreja durante um passeio de família. Por sorte, Harry
conseguiu segurar o carrinho antes que este rolasse escada abaixo.
Tom diz:
“Todo
mundo pensou que era apenas rivalidade normal entre irmãos e que ela
iria crescer sem isso, mas Nicola só fez piorar. Pelo que eu me lembre,
Nicola não era certa, não tinha empatia com os outros.”
Marion consultou psicólogos que disseram que Nicola era “normal”, mas segundo Tom, sua irmã era uma criança mestre em manipular:
“Ela era boa em fingir sanidade.”
Na Foto: A família Edgington. Marion, 45 anos, Tom, 08 anos, Sara, 05 anos, e Nicola, 10 anos, durante uma viagem de férias a Israel. |
“Uma
vez minha mãe escondeu todos os seus sapatos para impedí-la de sair de
casa, ela então pegava os meus e fugia. Ficava uma ou duas semanas
sumida. Os serviços sociais diziam que ela era um perigo para outras
crianças, mas eles não ajudavam minha mãe.”
Quando
Nicola completou 12 anos, Marion deciciu mudar-se com a família para uma
casa de campo em East Sussex, uma bucólica região no sudoeste da
Inglaterra. Separada de Harry, ela queria levar sua filha mais velha
para longe de Londres.
Na capital inglesa, apesar da pouca idade, Nicola
já havia enturmado com tudo quanto era má influência, passava as noites
nas ruas bebendo e fumando com amigos. No novo lar, Marion colocou os
dois filhos mais novos, Tom, 10 anos, e Sara, 07 anos, em um internato
onde passavam a semana inteira longe de Nicola.
“Acho
que minha mãe percebeu que Nicola poderia ser violenta, estava se
tornando um risco para nós. Para mim foi um alívio ficar longe dela. Eu
amei a escola e não queria ir para casa nos fins de semana. Ficar com
meus amigos e ver como outras famílias se relacionavam, me fez perceber o
quão mentalmente instável era Nicola e como isso afetou nossa família.”
Aos 15
anos, Nicola foi expulsa do colégio e passou a morar em um apartamento
pago pelo seu pai, Harry. Nessa época, depois de inúmeras tentativas,
sua mãe conseguiu levá-la até um Centro de Saúde e ela começou a tomar
remédios controlados. Morando sozinha, porém, ninguém poderia garantir
que Nicola tomaria sua medicação.
No seu
aniversário de 13 anos, Tom visitou a irmã mais velha, mas a visita
quase lhe tirou a vida. Nicola o fez fumar maconha e obrigou-lhe a
consumir anfetaminas até que ele caísse doente. Talvez ela o tenha usado
como uma espécie de cobaia para saber quantos comprimidos eram
necessários para levar alguém a óbito.
Aos 17
anos, Nicola ficou grávida de gêmeos, mas teve um aborto depois que o
namorado lhe deu um soco na barriga. Ela se mudou para Londres onde
trabalhou como recepcionista e dançarina de boates de strip-tease. Aos
19 anos, ficou grávida novamente de um namorado traficante e deu à luz a
um filho. Foi Marion quem ajudou a filha nos cuidados com a criança, o
seu primeiro neto.
Dois anos
depois, aos 21, Nicola se casou com um jamaicano que conheceu em um
clube. Engravidou do seu segundo filho e viveu, talvez, o período mais
estável de sua vida.
Tom diz:
“O
marido de Nicola amava o primeiro filho da minha irmã como se fosse
dele. Ele fez com que Nicola tomasse sua medicação, mas às vezes ela o
tratava horrivelmente e o acusava de todos os tipos ruins de
comportamento.”
O
casamento acabou quando Nicola se juntou a uma igreja cristã evangélica e
tornou-se convencida de que Deus, ao invés dos seus medicamentos,
poderia curá-la. Ficou convencida de que estava cercada por demônios.
Seu marido voltou à Jamaica e, quando Nicola o visitou, estava num
estado tão preocupante que o ex-marido a proibiu de deixar o país com o
filho do casal.
Ela voltou para a Inglaterra apenas com seu filho mais
velho. Marion estava tão preocupada com a segurança do neto que entrou
em contato com o Serviço Social inglês para que este tirasse de Nicola a
guarda do seu filho.
“Acho
que minha mãe esperava que Nicola teria a ajuda médica que precisava e,
em seguida, teria o seu filho de volta. Mas não foi isso o que
aconteceu. Sem os filhos, Nicola perdeu seu alojamento e o dinheiro do
governo, e começou a culpar minha mãe, que ficou bastante assustada e
disse que Nicola poderia matá-la.”
Após o
episódio das anfetaminhas, Tom mudou-se para a cidade de Brighton onde
cursava faculdade de Teatro. Ficou anos sem ver a irmã e fazia de tudo
para evitá- la. Em um fim de semana de Novembro de 2005, ele e sua irmã
mais nova, Sara, decidiram visitar a mãe em East Sussex, e quem estava
lá ?
“Foi
tudo difícil e tenso. Nicola estava muito tranquila e ficou lá sentada
escrevendo no seu notebook, enquanto eu tentava fazer piadas para
aliviar o clima.”
Diz Tom:
O que será que Nicola escrevia no notebook ???
“Decidi
levar Nicola para um pub para que, pelo menos, Sara tivesse algum tempo
com nossa mãe. Fomos para o pub, mas Nicola foi convidada a se retirar
do local por brigar com um DJ. Quando ela disse que estava voltando para
Londres, fiquei aliviado.”
Nicola e o
irmão Tom foram para um Pub e a primeira coisa que Nicola fez foi
arrumar confusão com um DJ do local. Após ser expulsa do Pub, Nicola
disse ao irmão que voltaria naquele instante para Londres, o que o
deixou bastante aliviado.
“Eu
telefonei para casa e perguntei pra minha mãe e Sara se elas não
queriam se juntar a mim no Pub. Elas vieram, mas minha mãe não conseguiu
um local para estacionar o carro e então deixou Sara e voltou para
casa.”
Sara e Tom ficaram conversando e bebendo no Pub. Eles não poderiam imaginar o horror que estava por vir.
“No
começo eu não conseguia entender o que estava vendo. Eu vi uma trouxa
de roupas e duas pernas e pensei que minha mãe tinha convidado alguém
para ficar lá. Falei para Sara que entrou no quarto e disse: Chame a
Polícia!”
Ao
voltarem para a casa da mãe, os irmãos veriam uma cena que nunca mais
sairiam de suas cabeças. Marion, a carinhosa mãe que sempre cuidou para
que os filhos vivessem em paz e harmonia, estava caída no chão com uma
enorme faca cravada no peito. Marion estava morta.
Chocado
pela cena, Tom imediatamente soube quem era a responsável por aquela
barbaridade. Sua suspeita tornou-se uma certeza quando ele acessou o
notebook que sua irmã Nicola, a poucas horas atrás, usava. Lá, havia um
arquivo do word salvo no desktop com o seguinte título:
“Pessoas condenadas!”
“O
nome da minha mãe estava no topo da lista, e estava riscado. Foi
decepcionante, também, ver o meu nome na lista. Talvez ela pretendesse
me matar.” Diz Tom.
Quando Nicola Edgington foi presa em um ônibus de Londres, depois de 16 dias em fuga, suas palavras foram:
“Foi Tom quem fez isso!”
“Não bastasse ela ter deixado o corpo da minha mãe para eu encontrar, ela ainda tentou me culpar por sua morte.” Diz Tom.
Após sua
prisão, Nicola foi diagnosticada com esquizofrenia e transtorno de
personalidade antissocial (psicopatia) e enviada a um hospital
psiquiátrico após admitir o homicídio e por ter sua responsabilidade
diminuída devido à sua condição.
Na época, Tom e sua irmã Sara disseram em um comunicado que:
“Finalmente Nicola está no lugar onde não poderá machucar ninguém e que pode receber à ajuda que desesperadamente precisa.”
Mas a tranquilidade para Tom, e sua irmã Sara, se transformou em medo quando, em 2009, Nicola foi libertada.
Por dois
anos, ela morou na Ambdekar House, no bairro de Greenwich, sudeste de
Londres, uma casa de apoio supervisionada por uma equipe de saúde
mental.
Considerada “boa” pelos médicos e pela equipe
do local, Nicola fazia planos para mudar para um apartamento. Na
verdade, Nicola estava longe de estar estável. Ela havia parado de tomar
sua medicação anti-psicótica após ficar grávida de um outro paciente, e
quando ela perdeu a criança num aborto espontâneo, ela piorou.
Em 11 de
outubro de 2011, Nicola enviou uma mensagem ao seu irmão Tom pelo
Facebook, era a primeira comunicação entre os irmãos desde a morte de
Marion.
“Ninguém está tomando conta de mim como mamãe fazia.” Escreveu Nicola.
Tom ficou
assustado com a mensagem. Ele contatou a Ambdekar House e pediu para que
a irmã fosse imediatamente reassistida. Dois dias depois, em 13 de
outubro, Nicola discou para o serviço de emergência inglês, o 999, e
disse:
“A última vez que me senti assim, eu matei alguém, matei minha mãe.”
Parecia
que Nicola estava implorando por ajuda. Policiais a encontraram e a
levaram voluntariamente para o Hospital londrino Queen Elizabeth II.
Dentro do hospital, ela novamente ligou para o 999 e gritou para ser
presa, avisando que era muito perigosa. Pensando se tratar de um surto
psicótico, profissionais do hospital a transferiram para uma Unidade de
Saúde Mental. Enquanto uma enfermeira preparava sua cama, Nicola fugiu.
Pegou um
ônibus para Bexleyheath, um bairro no subúrbio de Londres, invadiu uma
loja e roubou uma faca. Ao ver uma mulher parada num ponto de ônibus,
Nicola não pensou duas vezes: Correu em sua direção para matá-la. Kerry Clark,
22 anos, teve sorte. Talvez por ser jovem, conseguiu lutar contra
Nicola que não conseguiu atingir o seu objetivo. Mas ela não parou por
ai. Nicola invadiu um açougue e roubou um cutelo.
Naquela mesma hora, Sally Hodkin,
58 anos, caminhava em direção ao seu trabalho como fazia todas manhãs.
Sally teve, praticamente, sua cabeça decapitada por Nicola.
“Você
é manipuladora e excepcionalmente perigosa. Você fez sua escolha e o
fato é que voce deve assumir as responsabilidades pelos seus terríveis
atos,” disse o Juiz Brian Barker, a duas semanas atrás, durante
o Julgamento de Nicola Edgington, 32 anos.
Nicola foi condenada a duas
prisões perpétuas pelo assassinato de Sally Hodkin e tentativa de
homicídio de Kerry Clark.
Hoje, Tom
não tem certeza sobre como se sente em relação à sua irmã mais velha.
Tom aceita que Nicola sofre de uma doença mental e transtorno de
personalidade, mas não acredita que ela pode ser absolvida por suas
responsabilidades. Sua ira é direcionada para os profissionais médicos
que decidiram que Nicola estava bem o suficiente para estar de volta à
comunidade.
“Nós
conhecemos Nicola por toda vida. Nós sabíamos que ela era perigosa.
Dissemos a eles que ela seria um risco para outras pessoas. Ela nunca
deveria ter saído, mas eles simplesmente não quiseram nos ouvir.”
fonte: O Aprendiz Verde
3 comentários:
Parece que a questão ultrapassa as barreiras dos países. Fico pensando o quanto o Brasil é imaturo em relação a doença mental, seja ela neurótica, psicótica ou perversa. Mas lendo essa matéria, fico surpresa de concluir o quanto as pessoas ditas da Lei, são leigas nessa questão, o quanto os juízes e promotores, não sabem sobre a doença, e como a soberba deles faz com que pessoas sabidamente perigosas, consigam ter alta, mesmo após cometer esse tipo de crime, como nesse caso a morte da mãe. A doença mental, a esquizofrenia foi sucateada, os seres humanos, a população viraram ratinhos de laboratórios, são cobaias nas mãos dos magistrados e dos políticos. Por mais que se fale, por mais que se mostre, não acreditam, é preciso a pessoa cometer um ato ilícito para aí sim, o sujeito ser preso, só que aí, alguém já morreu, e quem dessas autoridades paga o preço?
Que dó, uma criança tão linda ter transtornos tão horríveis assim. uma vida desperdiçada e vidas tiradas. Mundo sombrio esse no qual vivemos e mtas vezes nem desconfiamos.
Meu Deus, que caso realmente macabro !!!! Fiquei chocada, que horror!
Mary
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