Era uma vez uma árvore.
Desde que ela se conhecia por árvore, ela sabia que era uma árvore diferente. O que ela não sabia era se a diferença estava na semente, na raiz, ou na terra em que fora plantada.
Ela olhava para as outras árvores do campo, muitas vezes desejando ser uma árvore normal, como as demais.
Quando chegou o dia de brotar as primeiras folhas, ela insistiu que algumas de suas folhas fossem vermelhas. Mamãe árvore fez de tudo para dissuadi-la: “Folhas têm de ser verdes!” - disse ela - mas sem sucesso.
E assim a copa cresceu com algumas folhas coloridas.
Muitas árvores vizinhas apontavam suas folhas sórdidas em direção às suas vermelhas, criticando-a.
Umas poucas elogiavam sua autenticidade...
E ainda outras, fofocavam entre si dizendo que as folhas vermelhas não deveriam existir naquela árvore.
Com as flores e frutos, história semelhante ocorreu.
E por ser diferente, essa árvore vivia sem contato com as demais.
Vez ou outra alguém usufruía da sua sombra... dos seus frutos... Mas quando se lembrava das folhas vermelhas, acabava por se afastar.
Mas a árvore ficou forte e viçosa por muito tempo. Sem se importar muito com as intempéries.
Os anos passaram, muitas estações sobrevieram. Algumas castigaram duramente aquela árvore. Ela chegou a ficar muito tempo sem folhas, flores e frutos.
Chegou a secar, e agora parece meio morta.
Mas a raiz sempre vibrando. Lentamente, mas vibrando. Ainda há seiva percorrendo os seus ramos, ainda que mirrados.
Vez ou outra, um pássaro pousa nos seus galhos e traz uma cantiga alegre.
Vez ou outra sua raiz se entrelaça com outra raiz, e há uma troca de seivas...
A árvore sabe que nem tudo está perdido.
Mas sabe também que para se tornar a árvore de outrora ela precisa batalhar, fazer sacrifícios, e fazer escolhas.
E a árvore está cansada... Cansada dos ventos, das tempestades...
Há ventos que vem de fora e há ventos que vem de dentro.
O pior inimigo é o que está dentro da árvore. Consumindo sua seiva e esvaindo suas forças. Um vento mais forte pode colocá-la a nocaute.
E vem o tempo em que a árvore terá que decidir se vale a pena continuar sendo uma árvore sem flores e frutos... E se vale a pena continuar ocupando terra em vão...
Wally Osvanilda