Autora de “As Armadilhas do Consumo” (Editora Campus), a psicanalista Márcia Tolotti se dedica há alguns anos a estudar o impacto das emoções na maneira como as pessoas lidam com o consumo, fazem investimentos e administram suas dívidas.
“Não somos tão livres como pensamos quando fazemos nossas escolhas de consumo”, diz Márcia Tolotti. “Quando compramos algo, escolhemos mais do que uma marca. Escolhemos os atributos que relacionamos a essa marca, como elegância, poder e aventura”, afirma.
Sete armadilhas de compras, dívidas e investimentos:
- ACHAR QUE TODAS AS DECISÕES SÃO RACIONAIS Segundo a psicanalista Márcia Tolotti, quando tomamos decisões relacionadas ao dinheiro, sofremos duas interferências negativas: da má educação financeira e das emoções. É um erro, assim, achar que basta conhecimento técnico para se dar bem nos investimentos. É preciso também ter autoconhecimento emocional.
- AGIR EM MOMENTO DE TRISTEZA OU RAIVA - Duas emoções que fazem com que as pessoas ajam de maneira impulsiva são a tristeza e a raiva. “A raiva atrapalha o raciocínio e causa uma “cegueira estrutural”. A tristeza faz com que a gente não dê muito valor para o que possui”, diz Márcia Tolotti. Numa situação assim, diz a psicanalista, um investidor, pode, por exemplo, vender uma ação por um preço muito baixo.
- DEIXAR-SE LEVAR PELO “EFEITO MANADA” - O efeito manada é percebido, por exemplo, quando uma pessoa se decide por um tipo de investimento porque viu que outras pessoas se deram bem. Nessas situações, o investidor pouco se preocupa em entender o mercado financeiro, porque tem certeza de que aquela empresa terá um bom resultado.
- COMPRAR IMPULSIVAMENTE - “Dois segundos e meio depois da decisão de compra, somos inundados pela dopamina”, diz Márcia Tolotti, citando o hormônio responsável pela sensação de prazer. Por isso tanta gente compra mais do que pode e acaba se endividando. Avaliar a real necessidade da compra e não consumir por impulso são as formas de se evitar essa armadilha.
- BOICOTAR-SE - Um investidor compra uma ação e estabelece que irá vendê-la quando o papel atingir um determinado valor. Mesmo quando esse valor é atingido, porém, ele não se permite ter essa recompensa. Em vez disso, decide adiar a venda, na expectativa de um valor mais alto que no fundo ele sabe que dificilmente será alcançado. “É uma espécie de autoboicote”, diz Márcia Tolotti.
- AGIR BASEADO NA CULPA - “A culpa é uma moeda muito cara”, define Márcia Tolotti. Pais que tentam reparar sua ausência no dia a dia dos filhos comprando coisas para eles, por exemplo, estão agindo por meio desse sentimento, o que pode levar a um descontrole financeiro. É preciso parar e pensar se essa é a motivação de uma compra. Se for, evite-a.
- SER CONSUMISTA - Não há nada errado em consumir, diz a psicanalista. Mas é preciso saber diferenciar o consumo do consumismo, e fugir deste último. “O consumo gera conforto se eu consigo pagar e não tira minha capacidade de investimento no longo prazo. Sobre o consumismo a pessoa não tem controle: ele leva ao endividamento e prejudica a capacidade de investimento”.
A psicanalista cita diversas emoções que estão relacionadas ao consumo, como vaidade, insegurança, inveja, tristeza e frustração. Ter autoconhecimento, diz ela, é importante para que as pessoas saibam o papel dessas emoções nas decisões do dia a dia e evitem cair em armadilhas.