Sou mãe de uma menina, hoje com 23 anos, que há mais de 10 anos sofria de distúrbios comportamentais, sem nunca ninguém ter declarado qualquer diagnóstico.
Finalmente, no ano passado um dos muitos psiquiatras que consultou (pois ela se incompatibilizava com os seus terapeutas), fez-lhe um ultimato e disse:
- "Menina, ou te internas num hospital especializado, e para isso eu te ajudo; ou então não te atendo mais !"
Ela ficou sem chão... Até gostava de conversar com esta médica. Acreditava que se entendiam bem.
Depois de muitas dúvidas, muito choro, muito riso e muita incredibilidade na eficácia e muita esperança... ela decidiu que sim. Iria ser internada.
Não foi fácil. O tal Hospital é estatal e só dá entrada quem vier recomendada numa situação de urgência de Hospital publico.
A sua médica forjou uma entrada urgente. Ela esteve dias misturada com pacientes com todo o tipo de distúrbio mental: desde violentos, alcoólicos, autistas, obsessivo-compulsivos, incapacitados... de tudo!
Na sua enfermaria havia uma menina que se punha nua durante a noite, defecava no chão e se limpava na roupa de cama das companheiras, além de violar os armários das restantes doentes e roubar o que podia.
Minha filha achava que não pertencia àquele lugar. Eu concordava com ela. Sofríamos as duas.
Eu a visitava todos os dias, a meio da manhã e no final da tarde. No início chorava muito e estava arrependida da sua decisão. Com o tempo foi aceitando as situações que não podia alterar. Continuava revoltada com os abusos dos outros, mas já entendia que nada podia fazer...
Nessa altura os médicos entenderam que aquele já não era lugar para ela. Então modificaram o regime de internamento.
Todos os dias ela vai para o Hospital pelas 08:30 ou 09:00 da manhã e só sai às 16:30.
Durante o período da manhã nada fazem. Os pacientes ficam numa sala de convívio jogando, lendo, apenas fazendo o que lhes apetecer.
No período da tarde têm actividades terapêuticas - diferentes todos os dias da semana.
Têm exercícios de ginástica e controle do stress, fazem expressão teatral, têm reunião de grupo em que cada um deve falar sobre como se sente e como os outros o afectam (esta parte ela não gosta nada porque ainda não se sente preparada para falar de si ) e têm consultas individuais, no mínimo 2 vezes por semana e além destas, sempre que seu estado se altera.
Já lá vão 9 meses... Ela continua tendo altos e baixos, mas eu noto que ela está melhor !
Cada vez compreende melhor seus comportamentos. Sabe analisá-los, sabe a sua origem, consegue detectar o que a altera. Está cada vez mais autónoma.
O que falta agora é que ela também se dê conta como melhorou. Nos momentos mais depressivos ela ainda acha que nunca vai ter uma vida normal. Mas eu já vi que não é assim.
Devagarinho ela está ficando uma pessoa mais segura. As crises estão sendo mais espaçadas. As auto-mutilações estão a ser cada vez mais leves com menor frequência.
Espero que este meu depoimento te ajude a procurar ajuda. Não é fácil, o resultado não é imediato, mas acredite, RESULTA !
Um abraço com carinho,
Carla
Que lindo depoimento! Fiquei muito comovida com o sofrimento da mãe e filha. Qualquer doença que seja de ordem psicológica ou física traz sofrimento para todos.
ResponderExcluirAcho que o mais importante ela esta fazendo, que é entender seu comportamento e a partir daí procurando se controlar. O retorno não é imediato, requer paciência, mas a garota e a mãe estão de parabéns pela coragem e luta!
Lindo post!
Concordo plenamente, Lidiana.
ResponderExcluirMuito bonito!
ResponderExcluirHoje estava conversando com minha mãe sobre uma menina que conhecemos que tem esquisofrenia, mas ao invés de me sentir mais 'solta', não quero que ela saiba que a filha dela talvez tenha um transtorno... mas acho que ela já percebeu isso, pois já presenciou brigas minhas tensas. E ela me contou sobre uma historia de quando eu era menor, em que me deram atenção, e depois desviaram. Eu fiquei pulando e gritando tipo 'ei, to aqui' pra poderem continuarem prestando atenção em mim. Parece que essa necessidade exagerada de atenção 25h é desde cedo. ;/ Mas... eu quero conseguir, só isso. Hoje eu estou pensando assim, amanhã posso estar querendo desistir porque não vai dar certo, de novo.
Tay
Obrigada pelos comentários.
ResponderExcluirSó posso dizer que tudo vale a pena quando há muito amor.
Há um poeta - Fernando Pessoa - que muitos dizem que também sofria de distúrbios mentais, talvez multiplicidade de personalidade.
Ele escreveu sob vários heterónimos e cada um deles tinha personalidades e formas de escrita diferentes.
Pesquisem os nomes de Álvaro de Campos, Ricardo Reis ou Alberto Caeiro. Tudo isto são personalidades de Fernando Pessoa- um dos maiores poetas Portugueses.
Ele dizia: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena !"
Já deu para notar que aqui ninguém tem alma pequena. Por isso, tudo vale a pena.
É assim que eu encaro a vida e tento transmitir esse sentimento aos que me estão próximos (seja fisicamente ou virtualmente).
DESISTIR NÃO EXISTE NO MEU DICIONÁRIO.
Se a minha filha fosse cega, ou não tivesse pernas, ou braços, ou qualquer outra deficiência, eu a amaria menos?
Não sou uma sofredora. Sou apenas uma mãe com muito amor. E me apraz muito poder estar com ela em todos os seus momentos.
Algumas vezes são difíceis, mas, acreditem, não há ninguém mais doce, mais sensível, mais adorável que esta minha filhota. Tudo porque sofre de TPB.
Por estes sítios virtuais já vi escrito: "Ter uma doença (TPB) não é ser doente (TPB).
As doenças têm tratamento. Os que sofrem de TPB são tratáveis. São gente com uma personalidade mais sensível. No entanto necessitam apenas de muito amor, apoio, compreensão e... acompanhamento terapêutico . Nada de mais!
Para a Tay:
Nos momentos em que pensa em desistir porque não vai dar certo, ... pára... Esquece o mundo. Só existe você e os que estão consigo (perto ou longe).
Se escrever aqui ou no meu blog, estarei sempre acompanhando seu percurso. Estarei atenta às suas emoções, feitos, desilusões e sucessos (que serão muitos).
Mais uma vez, Obrigada a todos pelas mensagens de apoio,
Beijos
Carla
Olá... Tenho 16 anos e fui diagnosticada como borderline a um ano e alguns meses. Fui levada ao médico pelo meu pai, que é separado da minha mãe e é muito mais... Sensato, digamos assim. Fui passar uma temporada junto a ele e fui encaminhada a um tratamento adequado. Ao voltar pra casa, minha mãe foi informada da minha doença, mas ela simplesmente não aceita. Já cheguei a um ponto de que não consigo mais nem sorrir. Estou prejudicada na escola, já perdi o ano. Minha mãe sofre com isso, tenho certeza. Mas não tenho mais acompanhamento médico e nem tomo medicação, e o pior é não ter com quem conversar. Moro com 12 pessoas e não consigo conviver com nenhuma delas, as vejo como pessoas vazias e fúteis, enquanto sou vista como rebelde. Já tentei suicídio e mesmo assim minha mãe não abre os olhos. Eu imploro por tratamento, não aguento mais me sentir vazia, não aguento mais magoar todos que me amam. Me sinto sozinha, e sinto ódio de mim por saber que a culpada disso sou eu. As pessoas que eu amo, magoo. E as pessoas que me amam, acabam desistindo e se afastando no final. Eu tento, juro que tento, controlar minhas palavras e meu sarcasmo. Minha ira não consegue ficar contida, já tive surtos de quebrar meus objetos mais amados. Todo mês tento algo novo, algo pra matar o tédio, mas nada me satisfaz, nem mesmo atividades que eu amo. Não consigo levar projetos até o fim... Vontade eu tenho, muita. Assim como tenho muita vontade de melhorar. Não vejo mais um futuro pra mim, não me acho merecedora de um final feliz. Não consigo mais esconder meu gênio das pessoas, não sei mais me controlar, coisa que antes eu sabia... Não sei mais o que fazer. Me perdoem, mas eu precisava desabafar. Um beijo, Indy.
ResponderExcluirOlá Indy,
ResponderExcluirÉ sempre bom desabafar e aqui você pode fazer isso sempre que quiser.
Você não consegue ficar com seu pai um tempo pra poder retomar seu tratamento?
Ou mesmo morando com sua mãe procurar tratamento publico? Assim você nao fica na dependencia da sua mae já que ela nao a apoia nisso.
Ficar sem nenhum apoio (terapêutico e/ou medicamentoso) é muito difícil mesmo pois ficamos expostos aos sintomas do TPB diretamente.
Você é sim merecedora de coisas boas, de uma vida mais tranquila, mais feliz.
Todo mundo é!!
Beijos
maria roberta
Indy querida,
ResponderExcluirVocê só vai conseguir começar a controlar seus sintomas quando estiver se tratando.
Não sinta ódio de você porque a culpa de ter o transtorno não é sua. Não mesmo!!
A gente tem que pensar em uma solução para você se tratar.
A dica da Maria Roberta é interessante, não dá pra você passar uma temporada com seu pai?
bjos e volte logo!!