02/06/2013

Minha Irmã Psicopata

Tom Edgington tem poucas lembranças felizes de sua infância em Muswell Hill, um subúrbio ao norte de Londres. 

Seu pai, Harry, um homem sério e de poucas palavras, era um correspondente do jornal inglês Daily Mail, e trabalhava muito dentro de casa. Sua mãe, Marion, ao contrário do marido, era uma mulher bastante comunicativa e uma personalidade bastante popular no bairro. 

Além de Tom, o casal tinha mais duas filhas, Nicola, a mais velha, e Sara, a caçula. A família inglesa poderia ser apenas mais uma família normal mundo afora não fosse um seríssimo problema que girava em torno da irmã mais velha de Tom, a ruivinha Nicola.

Tom diz sobre sua irmã:

“Nicola parecia gostar de criar conflitos, colocando as pessoas umas contra as outras. Eu pensava que era normal, não tinha como eu saber que não. Crescemos como forasteiros no bairro, Nicola sempre tinha problemas na escola e os pais de colegas proibiam seus filhos de brincarem com ela por acharem que ela era uma má influência.”

Voltando ao passado, uma lembrança se destaca na mente de Tom. Ele tem quatro anos e está arranhado, sangrando, caído sobre uma roseira no jardim. Seu pai corre para ajudá-lo, ao lado, sua irmãzinha Nicola assiste à cena sem expressar nenhuma emoção. Foi ela quem o empurrou contra os espinhos. Repreendida pelo pai, ela apenas diz:

“Está feito!”

Ela chamava o irmão mais novo apenas de “coisa”, e essa não fora a primeira vez que ela tentara se livrar dele. Quanto Tom tinha dois anos, Nicola empurrou o seu carrinho de bebê pela escadaria de uma igreja durante um passeio de família. Por sorte, Harry conseguiu segurar o carrinho antes que este rolasse escada abaixo.

Tom diz:

“Todo mundo pensou que era apenas rivalidade normal entre irmãos e que ela iria crescer sem isso, mas Nicola só fez piorar. Pelo que eu me lembre, Nicola não era certa, não tinha empatia com os outros.”

Marion consultou psicólogos que disseram que Nicola era “normal”, mas segundo Tom, sua irmã era uma criança mestre em manipular:

“Ela era boa em fingir sanidade.”

Na Foto: A família Edgington. Marion
Na Foto: A família Edgington. Marion, 45 anos, Tom, 08 anos, Sara, 05 anos, e Nicola, 10 anos, durante uma viagem de férias a Israel.
Aos 11 anos, Nicola ficou incontrolável, fugia de casa.
Passava dias desaparecida.

“Uma vez minha mãe escondeu todos os seus sapatos para impedí-la de sair de casa, ela então pegava os meus e fugia. Ficava uma ou duas semanas sumida. Os serviços sociais diziam que ela era um perigo para outras crianças, mas eles não ajudavam minha mãe.”

Quando Nicola completou 12 anos, Marion deciciu mudar-se com a família para uma casa de campo em East Sussex, uma bucólica região no sudoeste da Inglaterra. Separada de Harry, ela queria levar sua filha mais velha para longe de Londres. 

Na capital inglesa, apesar da pouca idade, Nicola já havia enturmado com tudo quanto era má influência, passava as noites nas ruas bebendo e fumando com amigos. No novo lar, Marion colocou os dois filhos mais novos, Tom, 10 anos, e Sara, 07 anos, em um internato onde passavam a semana inteira longe de Nicola.

“Acho que minha mãe percebeu que Nicola poderia ser violenta, estava se tornando um risco para nós. Para mim foi um alívio ficar longe dela. Eu amei a escola e não queria ir para casa nos fins de semana. Ficar com meus amigos e ver como outras famílias se relacionavam, me fez perceber o quão mentalmente instável era Nicola e como isso afetou nossa família.”

Aos 15 anos, Nicola foi expulsa do colégio e passou a morar em um apartamento pago pelo seu pai, Harry. Nessa época, depois de inúmeras tentativas, sua mãe conseguiu levá-la até um Centro de Saúde e ela começou a tomar remédios controlados. Morando sozinha, porém, ninguém poderia garantir que Nicola tomaria sua medicação.

No seu aniversário de 13 anos, Tom visitou a irmã mais velha, mas a visita quase lhe tirou a vida. Nicola o fez fumar maconha e obrigou-lhe a consumir anfetaminas até que ele caísse doente. Talvez ela o tenha usado como uma espécie de cobaia para saber quantos comprimidos eram necessários para levar alguém a óbito.

Aos 17 anos, Nicola ficou grávida de gêmeos, mas teve um aborto depois que o namorado lhe deu um soco na barriga. Ela se mudou para Londres onde trabalhou como recepcionista e dançarina de boates de strip-tease. Aos 19 anos, ficou grávida novamente de um namorado traficante e deu à luz a um filho. Foi Marion quem ajudou a filha nos cuidados com a criança, o seu primeiro neto.

Dois anos depois, aos 21, Nicola se casou com um jamaicano que conheceu em um clube. Engravidou do seu segundo filho e viveu, talvez, o período mais estável de sua vida.

Tom diz:

“O marido de Nicola amava o primeiro filho da minha irmã como se fosse dele. Ele fez com que Nicola tomasse sua medicação, mas às vezes ela o tratava horrivelmente e o acusava de todos os tipos ruins de comportamento.”

O casamento acabou quando Nicola se juntou a uma igreja cristã evangélica e tornou-se convencida de que Deus, ao invés dos seus medicamentos, poderia curá-la. Ficou convencida de que estava cercada por demônios. Seu marido voltou à Jamaica e, quando Nicola o visitou, estava num estado tão preocupante que o ex-marido a proibiu de deixar o país com o filho do casal. 

Ela voltou para a Inglaterra apenas com seu filho mais velho. Marion estava tão preocupada com a segurança do neto que entrou em contato com o Serviço Social inglês para que este tirasse de Nicola a guarda do seu filho.

“Acho que minha mãe esperava que Nicola teria a ajuda médica que precisava e, em seguida, teria o seu filho de volta. Mas não foi isso o que aconteceu. Sem os filhos, Nicola perdeu seu alojamento e o dinheiro do governo, e começou a culpar minha mãe, que ficou bastante assustada e disse que Nicola poderia matá-la.”

Após o episódio das anfetaminhas, Tom mudou-se para a cidade de Brighton onde cursava faculdade de Teatro. Ficou anos sem ver a irmã e fazia de tudo para evitá- la. Em um fim de semana de Novembro de 2005, ele e sua irmã mais nova, Sara, decidiram visitar a mãe em East Sussex, e quem estava lá ?

“Foi tudo difícil e tenso. Nicola estava muito tranquila e ficou lá sentada escrevendo no seu notebook, enquanto eu tentava fazer piadas para aliviar o clima.” 

Diz Tom:

O que será que Nicola escrevia no notebook ???

“Decidi levar Nicola para um pub para que, pelo menos, Sara tivesse algum tempo com nossa mãe. Fomos para o pub, mas Nicola foi convidada a se retirar do local por brigar com um DJ. Quando ela disse que estava voltando para Londres, fiquei aliviado.”

Nicola e o irmão Tom foram para um Pub e a primeira coisa que Nicola fez foi arrumar confusão com um DJ do local. Após ser expulsa do Pub, Nicola disse ao irmão que voltaria naquele instante para Londres, o que o deixou bastante aliviado.

“Eu telefonei para casa e perguntei pra minha mãe e Sara se elas não queriam se juntar a mim no Pub. Elas vieram, mas minha mãe não conseguiu um local para estacionar o carro e então deixou Sara e voltou para casa.”

Sara e Tom ficaram conversando e bebendo no Pub. Eles não poderiam imaginar o horror que estava por vir.

“No começo eu não conseguia entender o que estava vendo. Eu vi uma trouxa de roupas e duas pernas e pensei que minha mãe tinha convidado alguém para ficar lá. Falei para Sara que entrou no quarto e disse: Chame a Polícia!”

Ao voltarem para a casa da mãe, os irmãos veriam uma cena que nunca mais sairiam de suas cabeças. Marion, a carinhosa mãe que sempre cuidou para que os filhos vivessem em paz e harmonia, estava caída no chão com uma enorme faca cravada no peito. Marion estava morta.


Na Foto: A casa de Marion Edgington, em East Sussex, Inglaterra.
Na Foto: A casa de Marion Edgingtont Sussex.


Chocado pela cena, Tom imediatamente soube quem era a responsável por aquela barbaridade. Sua suspeita tornou-se uma certeza quando ele acessou o notebook que sua irmã Nicola, a poucas horas atrás, usava. Lá, havia um arquivo do word salvo no desktop com o seguinte título:

“Pessoas condenadas!”

“O nome da minha mãe estava no topo da lista, e estava riscado. Foi decepcionante, também, ver o meu nome na lista. Talvez ela pretendesse me matar.” Diz Tom.

Quando Nicola Edgington foi presa em um ônibus de Londres, depois de 16 dias em fuga, suas palavras foram:

“Foi Tom quem fez isso!”

“Não bastasse ela ter deixado o corpo da minha mãe para eu encontrar, ela ainda tentou me culpar por sua morte.” Diz Tom.

Após sua prisão, Nicola foi diagnosticada com esquizofrenia e transtorno de personalidade antissocial (psicopatia) e enviada a um hospital psiquiátrico após admitir o homicídio e por ter sua responsabilidade diminuída devido à sua condição.

Na época, Tom e sua irmã Sara disseram em um comunicado que:

“Finalmente Nicola está no lugar onde não poderá machucar ninguém e que pode receber à ajuda que desesperadamente precisa.”

Mas a tranquilidade para Tom, e sua irmã Sara, se transformou em medo quando, em 2009, Nicola foi libertada.

Por dois anos, ela morou na Ambdekar House, no bairro de Greenwich, sudeste de Londres, uma casa de apoio supervisionada por uma equipe de saúde mental. 

Considerada “boa” pelos médicos e pela equipe do local, Nicola fazia planos para mudar para um apartamento. Na verdade, Nicola estava longe de estar estável. Ela havia parado de tomar sua medicação anti-psicótica após ficar grávida de um outro paciente, e quando ela perdeu a criança num aborto espontâneo, ela piorou.

Em 11 de outubro de 2011, Nicola enviou uma mensagem ao seu irmão Tom pelo Facebook, era a primeira comunicação entre os irmãos desde a morte de Marion.

“Ninguém está tomando conta de mim como mamãe fazia.” Escreveu Nicola.

Tom ficou assustado com a mensagem. Ele contatou a Ambdekar House e pediu para que a irmã fosse imediatamente reassistida. Dois dias depois, em 13 de outubro, Nicola discou para o serviço de emergência inglês, o 999, e disse:

“A última vez que me senti assim, eu matei alguém, matei minha mãe.”

Parecia que Nicola estava implorando por ajuda. Policiais a encontraram e a levaram voluntariamente para o Hospital londrino Queen Elizabeth II. Dentro do hospital, ela novamente ligou para o 999 e gritou para ser presa, avisando que era muito perigosa. Pensando se tratar de um surto psicótico, profissionais do hospital a transferiram para uma Unidade de Saúde Mental. Enquanto uma enfermeira preparava sua cama, Nicola fugiu.

Pegou um ônibus para Bexleyheath, um bairro no subúrbio de Londres, invadiu uma loja e roubou uma faca. Ao ver uma mulher parada num ponto de ônibus, Nicola não pensou duas vezes: Correu em sua direção para matá-la. Kerry Clark, 22 anos, teve sorte. Talvez por ser jovem, conseguiu lutar contra Nicola que não conseguiu atingir o seu objetivo. Mas ela não parou por ai. Nicola invadiu um açougue e roubou um cutelo. 

Naquela mesma hora, Sally Hodkin, 58 anos, caminhava em direção ao seu trabalho como fazia todas manhãs. Sally teve, praticamente, sua cabeça decapitada por Nicola.

“Você é manipuladora e excepcionalmente perigosa. Você fez sua escolha e o fato é que voce deve assumir as responsabilidades pelos seus terríveis atos,” disse o Juiz Brian Barker, a duas semanas atrás, durante o Julgamento de Nicola Edgington, 32 anos. 

Nicola foi condenada a duas prisões perpétuas pelo assassinato de Sally Hodkin e tentativa de homicídio de Kerry Clark.

Hoje, Tom não tem certeza sobre como se sente em relação à sua irmã mais velha. Tom aceita que Nicola sofre de uma doença mental e transtorno de personalidade, mas não acredita que ela pode ser absolvida por suas responsabilidades. Sua ira é direcionada para os profissionais médicos que decidiram que Nicola estava bem o suficiente para estar de volta à comunidade.

“Nós conhecemos Nicola por toda vida. Nós sabíamos que ela era perigosa. Dissemos a eles que ela seria um risco para outras pessoas. Ela nunca deveria ter saído, mas eles simplesmente não quiseram nos ouvir.”


Na Foto: Nicola entrando algemada no Tribunal em 2005 pelo assassinato de sua mãe.
Na Foto: Nicola entrando algemada no Tribunal em 2005.
Acusada do assassinato de sua mãe.


Na Foto: Kelly Clark. A jovem foi atacada com uma faca em outubro de 2011 por Nicola. Ela reagiu ao ataque e conseguiu escapar da fúria de Nicola.
Na Foto: Kelly Clark. A jovem foi atacada por Nicola.
Ela reagiu ao ataque e conseguiu escapar de sua fúria.


Na Foto: Sally Hodkgin. A mesma sorte não teve Sally Hodkin, 58 anos. Ela foi morta por Nicola a golpes de cutelo.
Na Foto: Sally Hodkgin.
A mesma sorte não teve Sally Hodkin, 58 anos.
Ela foi morta por Nicola a golpes de cutelo.
Na Foto: Marion Edgington. Seis anos antes, Nicola havia assassinado a própria mãe.
Na Foto: Marion Edgington. 
Seis anos antes, Nicola havia assassinado a própria mãe.

Veja abaixo cenas de câmeras de segurança que flagram Nicola Edgington fugindo da cena do crime.




fonte: O Aprendiz Verde

3 comentários:

  1. Parece que a questão ultrapassa as barreiras dos países. Fico pensando o quanto o Brasil é imaturo em relação a doença mental, seja ela neurótica, psicótica ou perversa. Mas lendo essa matéria, fico surpresa de concluir o quanto as pessoas ditas da Lei, são leigas nessa questão, o quanto os juízes e promotores, não sabem sobre a doença, e como a soberba deles faz com que pessoas sabidamente perigosas, consigam ter alta, mesmo após cometer esse tipo de crime, como nesse caso a morte da mãe. A doença mental, a esquizofrenia foi sucateada, os seres humanos, a população viraram ratinhos de laboratórios, são cobaias nas mãos dos magistrados e dos políticos. Por mais que se fale, por mais que se mostre, não acreditam, é preciso a pessoa cometer um ato ilícito para aí sim, o sujeito ser preso, só que aí, alguém já morreu, e quem dessas autoridades paga o preço?

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  2. Que dó, uma criança tão linda ter transtornos tão horríveis assim. uma vida desperdiçada e vidas tiradas. Mundo sombrio esse no qual vivemos e mtas vezes nem desconfiamos.

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  3. Meu Deus, que caso realmente macabro !!!! Fiquei chocada, que horror!

    Mary

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