BORDERLINE
Por: André Lacerda - Psicanalista
Clínica Psicanalítica Ltda-
Rua dos Andradas 904 - conj 33 P.Alegre
Ultimamente uma patologia que vem acometendo nossos jovens é o que tem sido chamado de Transtorno Borderline de Personalidade.
Borderline vêm do inglês limítrofe e assim, significa algo que está no limite entre duas coisas que nesse caso é a neurose e a psicose. O termo já causou grande polêmica sendo que alguns teóricos e pesquisadores são contra o uso da denominação porque consideram-na ambígua.
Outros acham que tais pacientes deveriam ser classificados como psicóticos. Mas se partirmos das questões de ordem prática, não poderíamos deixar de dizer que qualquer dos transtornos mentais que surgem na clínica prática, são na verdade, um coquetel de traços encontrados em muitas patologias. Ás vezes você encontra sinais de quase todas as principais patologias presentes no quadro de um único paciente.
Curiosamente, como veremos mais à frente, o Transtorno de Personalidade Borderline é um Transtorno onde se consegue estabelecer um diagnóstico mais preciso justamente porque há uma característica determinante no diagnóstico: os micros surtos psicóticos. Mas de uma forma geral você vai perceber que muitos dos traços encontrados no borderline, são absolutamente semelhantes aos traços encontrados nos paciente com Transtorno Narcísico da Personalidade sendo que, a diferença se estabelece unicamente pela forma de obtenção das provisões narcísicas que no borderline é a atenção incondicional do outro.
Como resultado de inúmeras pesquisas feitas a partir dos trabalhos de colegas ao redor do mundo, reuni aqui um razoável número de informação sobre os pacientes Borderline, para que tanto os colegas como os leigos possam ter uma idéia do significado dessa patologia, e seus efeitos na vida daqueles que são por ela vitimados. Talvez algumas pessoas possam, através das informações, buscar a ajuda se não para livrarem-se completamente da patologia, pelo menos para atenuar aqueles traços mais ruins e que impedem um adequado relacionamento com a vida.
Farei a apresentação desses dados em duas etapas. Na primeira faremos uma descrição mais sucinta, com orientações sobre como reconhecer esse tipo de Transtorno e, numa segunda etapa, explicaremos mais detalhadamente os aspectos que consideramos importantes nos traços predominantes dessa patologia.
O PADRÃO COMPORTAMENTAL
Existem seis padrões comportamentais que identificam um paciente Borderline ou o TPB - Transtorno de Personalidade Borderline:
1. VULNERABILIDADE EMOCIONAL
Os indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline têm dificuldades severas de lidar com emoções negativas, incluindo-se ai uma exacerbada sensibilidade para estímulos emocionais negativos, grande angústia diante de situações emocionalmente intensas e uma séria dificuldade para retornar às condições emocionais normais.
2. AUTO ANULAÇÃO
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline têm altos padrões de expectativas para si próprios e uma tendência a invalidar ou não reconhecer suas próprias respostas emocionais, pensamentos, convicções, e comportamentos.
3. CRISES E MANIPULAÇÕES
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline sempre estão envolvidos em comportamentos manipulatório suicida, ou seja, são comportamentos que normalmente simulam o suicídio mas não o levam a cabo. São movimento não fatais, auto agressões intencionais que resultam em algum tipo de ferimento corporal, auto-mutilação ou queimaduras que o indivíduo infringe a si mesmo. Geralmente o desejo de morrer é nulo ou se existe é frágil.
4. AFLIÇÃO INIBIDA
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline geralmente são incapazes de chorar ou expressar uma grande tristeza de forma apropriada.
5. PASSIVIDADE ATIVA
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline não conseguem solucionar os problemas de sua própria vida de maneira ativa e assim procuram fazer com que os problemas sejam solucionados por outras pessoas.
6. COMPETÊNCIA APARENTE
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline sempre parecem mais competentes do que realmente são ou do que mostram seus comportamentos e realizações.
ENTREVISTA DIAGNÓSTICA COM PACIENTES BORDERLINES.
Geralmente numa entrevista com um paciente borderline devemos estar atentos aos seguintes aspectos:
1. Afetos (aspectos subjetivos)
Depressão crônica (que eles sempre negam*), desesperança, desamparo, sentimento de inutilidade, culpa, raiva (incluindo freqüentes expressões de raiva aberta ou velada), ansiedade, isolamento, tédio e sentimento de vazio.
2. Cognição (raciocínio/Intelectual)
Pensamentos estranhos, percepções não usuais, paranóia que não é passível de ser descrita e micro surtos psicóticos.
3. Impulsividade (comportamental)
Adição de drogas, desvios sexuais, suicídio manipulativo, gestos suicidas e outros comportamentos impulsivos como cleptomania e abuso alimentar. Muitos dos casos de Compulsão Sexual podem estar inseridos nesse tipo de Transtorno já que o sexo pode funcionar como uma adição importante na obtenção de contato com o outro.
4. Relações Interpessoais
Intolerância para solidão, abandono, engolfamento (no sentido de envolver o outro completamente), medos de aniquilação e fantasias de destruição, relacionamentos tempestuosos, manipulação, dependência, desvalorização, sadismo/masoquismo, demandas excessivas, auto intitulação (tentativa de parecer mais importante do que realmente é).
CRENÇAS CARACTERÍSTICAS DOS INDIVÍDUOS COM ESSE TRANSTORNO DE PERSONALIDADE.
Geralmente é importante que algumas perguntas fundamentais sejam respondidas na entrevista com o borderline. Muitos deles são hábeis no sentido de terem aprendido a dissimular alguns padrões comportamentais. Geralmente, nas entrevistas, observo tanto a linguagem corporal como também as linguagens, verbal e paraverbal. Abaixo eu fixo um tipo de roteiro que eu utilizo como referência e que foi acrescido de informações obtidas na experiência de outros colegas. Tais dados são fundamentais para definir com alguma clareza o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline. Muitas dessas declarações são observadas durante as entrevistas com esse tipo de paciente.
1. Eu sempre vou estar só. Nesse caso observa-se uma crença fortemente arraigada de que eles não tem meios de conseguir afetividade e nem mesmo um vínculo legitimo e duradouro com outras pessoas significativas. Mesmo quando esse vínculo ocorre, tal paciente não crêm que o outro possa vincular-se a ele;
2. Eu não acredito que alguém possa cuidar de mim com sinceridade ou que alguém esteja realmente disponível para ajudar-me.
3. Quando as pessoas me conhecerem de verdade, elas me rejeitarão e dessa forma, não poderão me amar e assim, vão me abandonar.
4. Tenho dificuldade de dar conta da vida por meus próprios meios. Eu sempre preciso de alguém por perto.
5. Geralmente eu tenho que adaptar minhas necessidades às necessidades de outras pessoas. Caso eu não faça isso elas poderão me abandonar ou atacar-me.
6. Não tenho controle sobre mim mesmo.
7. Não consigo ter disciplina comigo mesmo.
8. Se você me perguntar sobre minhas reais preferências, eu realmente não sei o que eu quero.
9. Prefiro que as demais pessoas tomem decisões, pois, nunca sei quando de fato estou certo. È muito confuso e eu estou sempre em dúvida quanto às minhas opiniões.
10. Preciso ter um completo domínio sobre meus sentimentos senão as coisas não sairão bem como deveriam sair.
11. Sinto-me uma pessoa má e eu devo ser punido por isso.
12. Se alguém falhar em manter uma promessa que feita para mim, essas pessoa já não terá mais a minha confiança.
13. Eu nunca vou ter o que eu quero ou desejo. Nem alimento ilusões quanto a isto.
14. Meus sentimentos ou opiniões são sem pé nem cabeça, não acho que possa fundamentá-las de forma coerente.
15. Se eu concordar com as coisas que algumas pessoas falam, Corro o risco de perder minha própria autonomia.
16. Se eu me recuso a atender um pedido de outra pessoa , corro o risco de perder a amizade dela.
17. Se disser o que eu quero, as pessoas vão ficar aborrecidas comigo.
18. As pessoas são más e tendem a abusar de você.
19. Eu sou impotente e vulnerável e dessa forma, não posso proteger a mim mesmo.
20. Se as pessoas realmente me conhecerem, quero dizer, conhecer a fundo, elas vão ver que sou um fracasso, um embuste e assim, vão me abandonar.
21. As outras pessoas não estão dispostas a ajudar ninguém sinceramente.
22. Há sempre uma sensação de que se você se deixa levar, acreditar em alguém e, nesses casos, você vai acabar ferido, decepcionado.
Nessas 22 respostas, eu me identifiquei em quase todas, sinto-me sozinha, mesmo tendo toda minha familia por perto, sinto-me inútil, não consigo terminar nada do que começo, estudos, cursos, ir a consultas médicas, nem mesmo meu preventivo não sou capaz de fazer, como se eu fosse dependente de alguém para obrigar-me a fazer tudo, principalmente trabalho, nunca deixo de cumprir minhas obrigações, e procuro fazer da melhor forma possivel, mas nunca acredito que esteja sendo o suficiente, sinto-me apavorada só em pensar que meu chefe ou superior possa chamar minha atenção por trabalho mal feito, é como se alguma coisa ou alguem me alertasse de que isso vai acontecer, com isso começo por faltar no trabalho sem justificativas e após as faltas, toma conta de mim um pavor imenso de voltar e enfrentar meu chefe sem justificativas para minhas faltas, não sei descrever se é vergonha, ou medo, mas é muito forte e com isso acabo por abandonar meu trabalho e isso ta sendo cada vez mais precoce, sendo que inicialmente eu conseguia ficar no emprego por 3 meses aproximadamente, hoje já não consigo ficar por mais de 1 mes, tenho registro em minha carteira de 15 dias, tenho outro apos esse com 40 dias, mas desses 40 dias faltei no minimo 15 dias, só consigo voltar a empresa para pedir a minha demissão, como se essa fosse a única solução, tenho pavor em pensar em ser demitida, talvez por isso eu acabo pedindo minha demissão sempre, minha família não entende só dizem que eu preciso trabalhar e ponto final, e eu tenho consciencia disso, preciso ganhar meu proprio sustento, mas parece que isso não tem importancia pra mim, e me condeno por isso, queria trabalhar como todo mundo trabalha, mulheres de minha idade ja conquistaram sucesso na vida profissional, e eu ainda nem comecei, minha irmã, criada pelos mesmos pais, das mesmas formas e condições, já é uma vencedora, sendo apenas 5 anos mais velhas. Sei que preciso de um trabalho, mas não consigo. Isso me da um desespero muito grande, como se não tivesse solução para mim, chego a pensar em morrer, mas sei que não sou capaz de atentar contra minha propria vida, acho que nem disso sou capaz. O que eu faço para progredir em minha vida profissional? Ja fui tratada e medicada como bipolar, seria meu diagnóstico correto o TPB? Se for, como faço para conseguir superar isso e vencer na vida?
ResponderExcluirCada vez que leio algo sobre borderline, mas me descubro; mais me encontro. É como ter-me explicada pelo olhar do outro quando as minhas próprias palavras estão ainda tão incertas e confusas. Eu acabo me encontrando e (re) encontrando em cada palavra, em cada linha, em cada frase. E, por mais que possa soar como sendo contraditório, cada vez, é um susto.
ResponderExcluirCada vez, bate em mim uma certeza de que de fato será para sempre... Bate, em meu peito a sensação/certeza de que agora eu sei os ‘porquês’ de tudo que sempre ocorreu comigo. Partindo disso, tenho vontade de sair gritando para as pessoas, gritando o que tá preso, gritando o que sufoca, gritando o que eu nem mesma sei- ao menos para as pessoas que estão ao meu redor, e que frequentemente me cobram ação, que nem tudo é tão simples quanto parece.Mas, me calo. E no meu silencio, tá o peso de ser borderline e ter todo um enfrentamento sozinha pela frente. E isso me dói.
Eu não sei o que fazer com o que eu sinto. Eu não sei como (re) agir a mim. Eu não consigo. E, se formos entrar num mérito de conseguir. Eu consigo, até consigo, mas, por um período muito curto de tempo, tão efêmero quanto os sorrisos que saem do meu lábio. Eu não sei ser sozinha, eu não me sinto existir só comigo. Na verdade, eu ainda nem consegui descobrir-me enquanto pessoa. Como se estivesse sempre à margem de alguma coisa. Não me encontro- não me vejo. Não me sei.
E, nesse turbilhão todo, não sei como começar e (re) começar a todo instante. É tudo tão cansativo e ao mesmo tempo tão acelerado. Os pensamentos, os desejos, as certezas, o querer ser. Não consigo me encontrar nisso. Não consigo me encontrar nesse tempo, que, de tão meu deixou de me pertencer...
Estou cambaleando a todo o momento nos excessos, nos extremos, em mim. E, a todo tempo, estou tão incansavelmente tentando encontrar algo ou alguma resposta que, a cada minuto, acabo me perdendo mais e mais: de mim, dos outros, da vida, do mundo.
Amanda Cabral
então... eu gostei do texto mas discordo de alguns pontos, até baseado no que eu li. Existe uma tendência a analisar o border até de uma maneira preconceituosa.
ResponderExcluirA parte da não vontade de morrer eu discordo, até pela alta taxa de mortalidade por suicídio que sabemos que o tpb tem. Também a incapacidade de chorar, bem, é até meio estranho, pois se somo indivíduos que sentimos demais e sem uma pele emocional, a lógica é que nos emocionemos demais, não é mesmo?
"Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline sempre parecem mais competentes do que realmente são"
Discordo totalmente. Isso é nos reduzir a simplesmente um transtorno. Competência ou a falta dela tem a ver com uma série de fatores. Generalizar faz parecer que nós borders somos piores do que parecemos.
Enfim... A parte final é bem característica do nosso pensamento mesmo e foi a parte que eu mais me identifiquei...
Bjos,
Eilan
http://borderline-girl.blogspot.com.br/