29/03/2013

Psicanálise do Cotidiano: O Coelho da Páscoa


Sinto muito se vou destruir a fantasia de muita gente, mas cabe-me a incumbência cruel de desmascarar uma mentira: O Coelho da Páscoa não existe! 

Os adultos compram chocolates em forma de ovo, coelho e cenoura, montam e escondem cestos  com doces e palha, espalham pegadinhas brancas pelo chão da casa, tudo para manter viva sua crença no peludo emissário da festa da gula infantil. 

As crianças, por sua vez, fazem-se de bobas, afinal, porque desiludir essa gente tão grande e tão frágil que também precisa brincar?  

Nada tenho contra a fantasia do Coelho da Páscoa compartilhada em família (muito menos contra os chocolates).Gostaria apenas de elucidar a quem e para quê servem certos personagens fictícios que apresentamos às crianças, como esse coelho, a Fada dos Dentes e o Papai Noel, que estão entre os mais populares da ala do bem.

Uma menina de onze anos escreveu uma história que pode nos ajudar a pensar a respeito disso, pois a protagonista ficava muito indignada com as mentiras que os adultos lhe contavam. 

Seu trabalho investigativo começava ocupando-se dessas fantasias mais comuns, mas seguia desvelando questões mais difíceis, como a morte, a doença e os segredos familiares, assuntos sobre os quais os adultos enrolam as crianças

Na medida em que suas descobertas iam se sucedendo, a ingenuidade infantil foi sendo substituída por uma mágoa, em função de ter sido enganada por tanto tempo. 

Porém, certo dia, ocorreu-lhe algo estranho: quando viu, estava contando a lorota do Papai Noel para uma criança menorzinha do que ela. Foi aí que descobriu que a mentira pode ser também um ato de proteção. 

Os mais velhos utilizam a fantasia até que a própria criança tenha a coragem e a estrutura necessárias para enfrentar as coisas duras da vida. Quando estão prontas e querem saber mais, as crianças perguntam e têm direito à verdade. 

Por outro lado, enquanto precisarem da ingenuidade e da fantasia, dificilmente serão convencidas a encarar a realidade. As crianças são mestras das próprias comportas, em condições normais elas regulam sabiamente o que entra e sai de suas cabecinhas.

Quanto a nós, adultos, a história é outra. A vida já nos cerceou a capacidade de fantasiar, mas nem por isso costumamos ficar em grande contato com a verdade. Mentir-se e contar as coisas conforme a versão que convém é especialidade de todos. 

Sendo assim, qualquer fracasso no amor ou no trabalho se deve a que os outros ou o mundo são injustos; sempre que dá fingimos que a doença e a morte não existem, além disso, não há dúvida de que somos bonzinhos e magnânimos enquanto os outros é que são mesquinhos. 

Convenhamos, são mentiras tão tristes
Ao contrário, as que contamos para as crianças são bonitas, divertidas e cercadas de rituais. 

O problema, é que quando as crianças crescem e não querem mais brincar, nós é que ficamos sem graça. Por vezes, elas até fingem acreditar por mais tempo, para não nos deixar à mercê de nossas mentirinhas medíocres. 

Realmente, cuidar dos adultos é muito trabalhoso para as crianças…

3 comentários:

  1. Adorei o post. Não lembro muito bem de quando descobri que Papai Noel e Coelho da páscoa não exisitam, acho que foi aos poucos.
    Beijos e boa páscoa!
    acidia28.blogspot.com.br/

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  2. Li isso hoje e lembrei do seu texto. "Os especialistas são unânimes: cultivar um universo de fantasia na infância é tão importante quanto cuidar da saúde" http://www.gazetadopovo.com.br/viverbem/conteudo.phtml?tl=1&id=1358297&tit=Quem-disse-que-o-coelho-da-Pascoa-nao-existe

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  3. Marcus, naturalmente divergências de opinião sempre existiram e continuarão a existir.
    No link que vc deixou dá a visão de uma terapeuta comportamental.
    Bem, eu concordo com visão psicanalítica, ou seja, a do texto acima :)
    Obrigada pela participação e volte sempre!

    Abraços

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