Uma vez quebrada a barreira da ignorância, a vontade de estudar mais sobre psicanálise cresceu.
Naveguei um pouco aqui e acolá, fui ficando cada vez mais interessada no assunto e a vontade de não apenas estudar mas também fazer análise foi tomando conta de mim.
Eu já tinha vencido algumas barreiras, mas ainda restava uma que era bem perturbadora e que vou chamar de barreira da infância intocável.
Essa barreira, na verdade, eu não quebrei antes de começar a fazer análise, eu não precisei.
Mas deixe-me começar do começo.
A minha barreira da infância intocável era uma barreira de concreto. Então podem imaginar a resistência dessa barreira!?!
E o que seria essa tal barreira da infância intocável?
Bem, a meu ver eu tive uma infância maravilhosa, como poucos têm o privilégio de ter.
Convivi com uma turma de primos mais ou menos na mesma faixa etária que a minha, morávamos todos em uma grande fazenda que pertencia a meu avô, a qual era dividida em sub-chácaras, habitávamos em total segurança, éramos cercados por uma natureza esplendorosa, caçávamos vagalumes, filhotes de sapos, péscavamos em uma lagoa, brincávamos na cerâmica que pertencia a meu avô, andávamos no barro quando chovia, tínhamos campo de vôlei e futebol... ou seja, pintávamos e bordávamos da maneira mais saudável que se podia imaginar.
Mexer nessa recordação, pra mim além de inaceitável, parecia ser algo profano!!!
Então porque minha infância foi adorável, eu não queria que NADA nem NINGUÉM tocasse nessas lembranças, então criei uma barreira para proteger essa memória.
E psicanálise tem que revolver o passado certo?
Errado!
Na verdade, a resposta correta é: Nem sempre!
E eu descobri isso meramente por acaso em um grupo de discussão no facebook onde também participava meu psicanalista.
Ele explicava pra alguém que há uma abordagem psicanalítica onde se trabalha apenas eventos do presente e passado recente.
Bingo!! Pensei!!
E foi quando eu consegui transpor a barreira da infância intocável sem ter que destrui-la.
Mal sabia eu que em menos de 4 meses a barreira se “auto-destruiria” e eu estaria divagando sobre minha infância, agora tocável, sem maiores problemas...
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